Tipo de abordagem da literatura que procura analisar o texto literário em função dos elementos nele representados que pertencem ao inconsciente colectivo da humanidade e que constituem, assim, modelos ou protótipos do modo de ser do homem. Os sonhos, os símbolos e a imaginação são os principais meios de aceder a estes arquétipos, que se destacam em qualquer texto literário.
Este tipo de abordagem da literatura conheceu, no século XX, quatro movimentos ou escolas principais que se sucedem quase cronologicamente. A perspectiva antropológica teve o seu desenvolvimento a partir sobretudo da Escola de Antropologia Comparativa de Cambridge, chefiada por James Frazer. O tipo de investigação científica realizado por este grupo não privilegiou a investigação de campo, antes preferindo as extrapolações meramente académicas, que consistiram fundamentalmente na recolha de mitos e rituais antigos de todas as culturas com o fim de encontrar analogias fundamentais. É o que acontece, por exemplo, no livro de J. L. Weston, From Ritual to Romance (1920), que conclui existirem certos padrões comuns a várias culturas.
Sob a influência da psicologia de Carl Jung, desenvolveu-se um outro tipo de abordagem crítica, a partir da identificação dos arquétipos que fazem parte do inconsciente colectivo e que são interpretados como símbolos de desejos, conflitos ou receios humanos.
Sem estarem presos à antropologia e à psicologia, autores como E. Cassirer, J. Campbell, J. B. Vickerey ou M. Douglas preferiram uma perspectiva mais epistemológica para o estudo dos mitos, usando os símbolos universais e naturais, como o Sol para significar a vida, as estrelas para significar orientação ou a fonte para significar renovação espiritual, por exemplo.
No seu livro clássico Anatomy of Criticism (1957), o crítico canadiano Northrop Frye desenvolveu um modelo próprio de crítica arquetípica — também chamada mitocrítica — baseado na teoria dos arquétipos, que o antropólogo britânico J. G. Frazer havia já abordado em The Golden Bough – A Study in Magic and Religion (1890-1915; publicado em 1922 numa edição completa de 12 vols.), fazendo um estudo mitológico comparativo que se tornou referência obrigatória para o estudo dos arquétipos. O modelo de Frye vê todas as obras literárias como parte de um sistema organizado de formas e de certos padrões, pelo que a análise de um texto em particular far-se-á sempre em função do lugar que ele desempenha nessa estrutura preconcebida.
A crítica arquetípica analisa então os acontecimentos extraordinários que a história se encarregou de tipificar, desde as viagens míticas de heróis como Ulisses ou Vasco da Gama, por exemplo, desde imagens exemplares da Morte, do Sonho, da Mãe, da Terra, etc. Estes arquétipos não sofreram modificações históricas ao longo dos tempos, tornando-se por isso facilmente identificáveis em todas as literaturas que os incorporam mesmo que involuntariamente. Os mitocríticos do século XX insistiram no facto de mesmo os escritores mais inovadores não serem capazes de evitar a reprodução ou o eco de histórias antigas, revestidas de um novo discurso, mesmo que não assumindo essa dívida histórica. Os teóricos do Novo Historicismo têm chamado a atenção para as limitações de uma tal abordagem, porque deixa de fora os problemas da contextualização dos textos literários, bem como as suas especificidades formais, baseando-se apenas no exercício comparativo de textos actuais, nos quais é necessário encontrar obrigatoriamente matéria mítica.
Carl Jung: Four Archetypes: Mother, Rebirth, Spirit, Trickster (1959); id.: The Archetypes and the Collective Unconscious, vol.9 (1991); Gaston Bachelard: La Psychalyse du feu (1938); H. Adams: Philosophy of Literary Symbolic (1983); H. Blumenberg: Work on Myth (1985); J. B. Vickery: Myth and Literature (1966); id.: Myth and Texts (1983); Joseph Campbell: The Hero With a Thousand Faces (1949); M. Bodkin: Archetypal Patterns in Poetry (1934); M. Doulglas: Natural Symbols (1970); Northrup Frye: Anatomy of Criticism: Four Essays (1957); R. Ackerman: The Myth and Ritual School (1991); Ruth Benedict: Patterns of Culture (1934).
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