Análise crítica da produção literária do ponto de vista da mulher. Os críticos feministas pretendem descobrir e divulgar uma tradição de escrita feminina, reavaliar a imagem da mulher na literatura e valorizar as vivências femininas do ponto de vista individual e colectivo. A crítica feminista entende que a literatura deve servir um propósito de contraponto à tradição cultural do ocidente, que se caracteriza por ser «monosubjectiva, monossexual, poderíamos dizer falocrática ou logofalocêntrica» (Magalhães:1996:147) e parte do princípio de que é necessária uma «compensatory history», que equilibre os pesos do masculino e do feminino na balança da história literária. A crítica feminista é entendida como «re-visão», mais do que um método crítico. Adrienne Rich define-a como «um acto de sobrevivência» (Rich:1972:84-91) perante a hegemonia do masculino: autor e produto literário. A diferenciação entre sexo (sex) e género (gender) é fundamental para a crítica feminista. Deste modo, o género não é entendido como identidade primordial absoluta, mas como um dado culturalmente adquirido, que acompanha as mudanças da própria cultura. Estas posições da crítica actual derivam de uma intermitente consciência crítica em mulheres que, isoladamente, se destacaram em séculos mais distantes. Por exemplo, em 1800, Madame de Stäel reconhece de forma lúcida e sintética que «[a] existência das mulheres em sociedade é ainda incerta sob muitos aspectos» e aspira a «uma época em que legisladores filósofos prestarão uma séria atenção à educação que as mulheres devem receber, às leis civis que as protegem, aos deveres que se lhes deverão impor, à felicidade que se lhes pode garantir; mas [que], no seu estado actual, não se encontram, na sua maior parte, nem na ordem da natureza nem na ordem da sociedade.» ( apud Duby:1994) Poder-se-á localizar cronologicamente, embora não de forma rígida, o nascimento da crítica feminista como uma atitude consciente, na década de 1960. No seu romance As Meninas (1973), Lygia Fagundes Telles dota uma das personagens femininas de pensamento crítico: «Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos». Este «agora» é um processo de redescoberta, reavaliação e construção, contínuo e intemporal. A valorização de um outro olhar – feminino – sobre uma tradição historico-literária – masculina.
Adrienne Rich: «When We Dead Awaken: Writing as Re-Vision. On Lies, Secrets, and Silence» (1972), in Feminist Literary Theory, a Reader (2ª ed., 1997); Bell Hooks: Feminist Theory: from Margin to Center (1984); Elaine Showalter (ed.): The New Feminist Criticism: Essays on Women, Literature and Theory (1986); Georges Duby e Michelle Perrot (dir.): História das Mulheres, O Séc. XIX (1994); Isabel Allegro de Magalhães: «Mesa Redonda», in Dedalus 6 (1996); Judith Butler: «Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity (1990)», in Feminist Literary Theory – a reader (1997); Judith Fetterley: The Resisting Reader: a Feminist Approach to American Fiction (1978); Lygia Fagundes Telles: As Meninas (1973).
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