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Derivado do lat. Chronica e do gr. Khrónos, consagra o conceito de tempo, informando com ele o discurso dos textos que designa.

Inicialmente, a crónica, mais geral ou mais particular, registava acontecimentos históricos por ordem cronológica. Fonte mais directa e imediata do conhecimento histórico, comportava também factos menos relevantes, informação secundária que a História moderna tenderá a elidir. Na alta Idade Média, a crónica começa a ser conformada por uma perspectiva individual que lhe confere uma dimensão interpretativa e, eventualmente, estética, como acontece com as obras de Fernão Lopes. (séc. XIV).

No séc. XIX, o desenvolvimento da imprensa periódica, e, em especial, da de opinião, vai fazer emergir a crónica no sentido moderno. No início, ela era apenas uma pequena secção de abertura que dava conta das notícias e dos rumores do dia, mas tenderá a alargar-se e a especializar-se pelo interior do periódico (crónica artística, literária, musical, etc.). Depois, ela desloca-se para o “folhetim”, secção do rodapé da primeira página do periódico, lugar de que se libertará mas onde conquistará a colaboração de homens de letras e, com isso, um espaço entre Jornalismo e Literatura. A sua identidade apoiar-se-á cada vez mais na autoria: a realidade social, política, cultural, etc. tornar-se-á progressivamente o quadro onde o cronista procura e selecciona qualquer facto, quase como pretexto para discursar, opinar e, até mesmo, efabular. Deste modo, a crónica esteticiza-se. A crónica contemporânea, discurso de autor, oscila entre ser predominantemente comentativa, reflexiva, e efabulatória (p. ex., no espaço brasileiro, ela assume a feição do conto breve). Assim, apesar da actualidade e transitoriedade da sua temática, tem uma autonomia que favorece a prática da sua recolha e publicação em volume.

bibliografia

Annabela Rita: Da “Chronica” do Distrito de Évora às Farpas : a conformação da crónica queirosiana (dissertação de doutoramento policopiada), Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1994; “A crónica”, pp. 27/86; AA.VV.: Ensaios. Crônica, Teatro e Crítica (actas da II Bienal Nestlé de Literatura Brasileira) (S. Paulo, 1986); AA.VV.: Jornalismo e Literatura (actas do II Encontro Afro-Luso-Brasileiro) (Lisboa, 1988); C. Bellanger; J. Godechot; P. Guiral; F. Terrou et al.: Histoire Générale de la Presse Française, 5 volumes, (Paris, 1969-1976); José Tengarrinha: História da Imprensa Periódica (2ª edição revista e aumentada) (Lisboa, 1989); Olivier Burgelin: La Communication de Masse (volume VI da Enciclopédia “Le Point de la Question”) (Paris, 1970).