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Tendência para orientar pedagogicamente a leitura de uma obra de arte literária, ou tendência desta mesma obra para orientar o sentido da sua própria mensagem, em particular, em termos morais, éticos, religiosos ou políticos. De certa forma, é possível atribuir, por exemplo, à pesquisa da intenção do autor, um certo didactismo hermenêutico: o que se pretende é instruir o leitor numa determinada direcção, que de alguma forma já está condicionada à exclusividade de um único leitor (o autor do texto a ser descodificado). Por outro lado, também os new critics norte-americanos caíram no didactismo (sempre neste sentido algo pejorativo, distante do que se entende hoje como didáctica da literatura) ao proporem que o sentido de um poema é intrínseco e não pode confundir-se com o que o seu autor pretendeu dizer. Concentrando a atenção do leitor praticamente nos aspectos estilísticos do texto literário e limitando a hermenêutica à poesia, pecaram também por didactismo ou excesso de orientação pedagógica na leitura dos textos.

Num sentido mais geral e menos depreciativo, o didactismo pode referir-se a todas as formas literárias que se colocaram ao serviço da educação dos leitores, sem procurar governar, ao mesmo tempo, o sentido dos textos produzidos. É o caso da poesia didáctica, por exemplo, escrita propositadamente para a formação literária de um determinado público. Horácio (64 – 8 d . C.), na sua Ars Poetica, defende precisamente que o fim de toda a poesia deve ser didáctico. Nesta Epistula ad Pisones, o Poeta assinala como finalidade da poesia aut prodesse aut delectare, isto é, instruir e ao mesmo tempo deleitar. Este tipo de didactismo acompanha a história da literatura e podemos apresentar outros exemplos, mesmo desde a Ilíada de Homero e dos textos dos Evangelhos, até ao Essay on Criticism de Pope. O Poème sur le désastre de Lisbonne de Voltaire ou o ABC of Reading de Ezra Pound podem também ser considerados casos exemplares de didactismo.