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1. Conceito nuclear de várias teorias críticas e culturais, no quadro do pós-estruturalismo e do pós-modernismo, sobretudo, convergindo para a discussão das diferenças raciais, sexuais e de género, que são determinadas por movimentos políticos e sociais que acabam por criar minorias dentro das comunidades de indivíduos. Frederic Jameson chamou a atenção para as limitações da ideologia da diferença: “se a ‘diferença’ é um slogan político duvidoso, repleto de desvios internos — por exemplo, ele prolonga muito a propósito a defesa dos anos 60 daquilo que muitas vezes é chamado pelo nome horrível de ‘questões de estilo de vida’, até que acaba por chegar, no fim das contas, a um
anti-socialismo como o da Guerra Fria —, a ‘diferenciação’, certamente, um instrumento sociológico fundamental para se entender o pós-moderno (e a chave conceitual para a ideologia da ‘diferença’), não é menos indigna de confiança. Esse é então o mais intricado dos paradoxos encenados pelas tentativas de se compreender o ‘pós-modernismo’ na forma de uma abstracção totalizante ou periódica” (1996, p.343). A ideia de pós-modernismo tem sido construída pela diferença, rejeitando o pressuposto moderno de construção de uma identidade homogénea, o que tem permitido o convívio (mesmo que não pacífico) epistemológico de diferentes áreas do conhecimento. O pós-modernismo afirmou-se por aquela via a que Lyotard chamou o “différend”, pois todas as nossas crenças pós-modernas estão por cumprir, face à ausência de um paradigma universal que as possa regular.

O que permanece é uma cultura política da diferença cujos objectivos pós-modernos são, de acordo com a proposta de Cornel West: “to trash the monolithic and homogeneous in the name of  diversity, multiplicity and heterogeneity; to reject the abstract, general and universal in light of the concrete, specific and particular; and to historicize, contextualize and pluralize by highlighting the contigent, provisional, variable, tentative, shifting and changing” (“The New Cultural Politics of Difference”, in Russel Ferguson et al., 1990, p.19).

2. Nas teorias feministas contemporâneas, o conceito de diferença tem merecido a especial atenção de pensadoras como Luce Irigaray, Jane Gallop, Hélène Cixous, Diana Fuss, etc. O consenso possível sobre o alcance epistemológico do conceito pode descrever-se do seguinte modo: 1) No sistema social patriarcal, prevalece apenas a identidade masculina que tende a apresentar-se como a identidade universal. A diferença faz-se pela anulação desse sistema e pela garantia de que a identidade não se constrói com uma só face. 2) A diferença diz respeito não só àquilo que separa uma mulher de um homem, mas também àquilo que separa a  mulher de um sistema social ou político subjugador e falsamente universal e àquilo que separa a mulher de outros grupos oprimidos. Por exemplo, uma campanha contra o racismo numa determinada comunidade não é directamente correlacionável com uma atitude de simpatia para com todos os outros grupos oprimidos, como o grande grupo das mulheres. 3) Mesmo que alguns homens possam alinhar em movimentos feministas de emancipação, a diferença entre os dois sexos mantém-se a todos os níveis. Mesmo num contexto patriarcal tolerante, a mulher procura sempre o seu modo de ser diferente,  porque possui uma identidade e uma sexualidade diferentes. 4) A poética do feminismo é uma poética da diferença: a busca de uma definição da identidade da mulher afecta tanto o conceito de mulher como o seu ser-no-mundo. (Alguns defenderão mesmo que afecta o próprio mundo.) 5) A política da diferença é uma poética radical da história, que importa reescrever em termos exclusivamente feministas.

bibliografia

Barbara Herrnstein Smith: Contingencies of Value: Alternative Perspectives for Critical Theory (1988); Fredric Jameson: “A ideologia da diferença”, in Pós-modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio (São Paulo, 1996); Hester Eisenstein e Alice Jardine (eds.): The Future of Difference (1980); Jean-François Lyotard: Le Différend (1983);  Linda Gordon: “On ‘Difference’ “, Genders, 10 (1991); Luce Irigary e Alison Martin: Je, tu, nous – Towards a Culture of Difference (1993); Marilyn Frye: “The Necessity of Differences: Constructing a Positive Category of Women”, Signs, 21, 4 (1996); Russell Ferguson et al. (eds.): Out There: Marginalization and Contemporary Culture (1990).

http://epic.cse.ucsc.edu/Classes/cmp186/…ltCtr/pubs/Inscriptions/vol_5/grosz.html