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Poema em forma de diálogo ou de solilóquio sobre temas rústicos, cujos intérpretes são em regra pastores. Inicialmente, o termo, que significava “poesia seleccionada”, foi aplicado aos poemas bucólicos de Virgílio. A partir daí, aplica-se às pastorais e aos idílios tradicionais que Teócrito e outros poetas sicilianos escreveram. Outros poetas italianos como Dante, Petrarca e Boccaccio recuperaram o género, que acabaria por se tornar um dos preferidos dos poetas renascentistas e maneiristas europeus. A grafia égloga, popularizada por Dante, parte de uma falsa etimologia latina que derivava de aix (“cabra, bode”) e logos (“palavra”, “discurso”, “diálogo”). De acordo com o comentário irónico do poeta inglês Spenser, em “E. K.”, terá sido construída para significar qualquer coisa como “Goteheards tales” (“contos de cabreiros”).

Luís de Camões, Bernardim Ribeiro, António Ferreira e Sá de Miranda estão entre os muitos poetas portugueses que nos legaram poemas do género. As suas composições seguem os modelos clássicos, não existia até então qualquer teorização portuguesa sobre as éclogas. A rigor, nem os modelos clássicos (Horácio e Diomedes) teorizam em particular sobre a écloga. O que sabemos sobre as regras da écloga advém dos próprios textos. No caso português, só em 1605 Francisco Rodrigues Lobo teoriza sobre o assunto em Discurso sobre a Vida e o Estilo dos Pastores (1605). Os poetas árcades do século XVIII ainda exploram o género, tendo mesmo teorizado sobre a écloga, como Dinis da Cruz e Silva. Um dos melhores intérpretes da écloga nesta época é João Xavier de Matos, destacando-se Albano e Damiana (1758).

A écloga clássica parte quase sempre de um quadro idílico, o locus amoenus ou lugar aprazível, e desenvolve com certa brevidade o louvor de uma pessoa, por razões sentimentais, reflecte sobre a condição do poeta e/ou da própria poesia, ou entretém-se com subtilezas políticas ou religiosas. Outro tema clássico das éclogas é o da libertação espiritual, a renúncia aos bens terrenos e sociais para uma total entrega à natureza e aos mais puros ideias de vida, perseguindo a chamada aurea mediocritas. O longo poema de Sá de Miranda conhecido por “Écloga Basto” ilustra este desejo: “Quando tudo era falante / pascia um cervo um bom prado …”.

Bibliografia:

A. Egido: “Sin poética hay poetas. Sobre la teoría de la égloga em el Siglo de Oro”, El Criticón, 30 (1985); Claude Poullain: “Églogue anciénne et églogue nouvelle dans la littérature portugaise de la Renaissance”, in Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XV (1980); J. Busnardo-Neto: The Eclogue in Sixteenth-Century Portugal (1974); José Augusto Bernardes: O Bucolismo Português: A Égloga do Renascimento ao Maneirismo (1988).