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Literalmente, o termo denota qualquer remendo ou conserto mal feito, o que, transposto para a literatura, corresponderá a todas as digressões, fugas ou evasivas que um autor decida incluir como complemento ou suplemento do tema central que trata numa dada obra. O termo tem origem latina (purpureus pannus, “remendo purpúreo”) e foi primeiro utilizado por Horácio, na Arte Poética (15-16), para censurar os maus poetas que desrespeitavam a lei clássica da unidade do poema e se perdiam em digressões suplementares, fazendo incluir nos seus textos passagens excêntricas e abusivamente ornadas (ou “remendos purpúreos”, que, uma vez cosidos num vestido de tecido diferente, darão a ilusão de constituir um todo). Hoje, o sentido de incorrecção e inadequação, que a observação irónica de Horácio tem na prática do emplastro, não se aplica, naturalmente, pois é sabido que a literatura contemporânea, desde as experiências futuristas às experiências pós-modernistas, tem procurado transformar a técnica do “remendo” num acto premeditado com determinados fins estéticos, sobretudo com o objectivo de estabelecer rupturas com as convenções de unidade temática. Um purple patch pode, assim, dar origem a purple prose, geralmente marcada por uma linguagem figurativa extravagante, enumerações, acumulações e colagens surpreendentes, segundo uma lógica que se quer i-lógica marcada pela ruptura entre a forma e o conteúdo, entre o tema central e os temas secundários que devem subverter a espinha dorsal do texto.