Termo derivado do latim indicta, declaração das virtudes dos mortos, designa a composição poética que tem origem no epicédio grego, canto fúnebre, variante da elegia e do treno ou trenodia, termos com que, entre os gregos, se cunhavam as ladainhas ou cantos fúnebres. A trenodia e o epicédio podem considerar-se variedades do encómio já que a lamentação fúnebre era antes de mais um hino elogioso. A distinção entre trenodia e epicédio resulta da primeira ser cantada junto ao corpo do defunto ao passo que tal podia não suceder com a segunda composição. A trenodia possui a variante monódia, canto triste e solitário de tom fúnebre. O epicédio, a trenodia e a monódia correspondem às nénias latinas, ladainhas ou orações cantadas pelas carpideiras em memória dos defuntos durante as procissões funerárias em Roma. O epicédio foi cultivado, por exemplo, por Catulo e Ovídio e a trenodia por Píndaro e Propércio. Estas composições poéticas foram introduzidas no Cristianismo, estando presentes nas lamentações bíblicas de Jeremias. Na Idade Média, os poetas ligaram a forma latina aos temas cristãos no canto de devoção aos mortos.
A endecha seguiu na Europa esta tradição elegíaca como em Inglaterra ilustram a «Exequy» (Poems, Elegies, Paradoxes and Sonnets, 1657) de Henry King e a canção de Ariel à morte do pai de Ferdinand em The Tempest (1611) de W. Shakespeare. A endecha distingue-se da elegia por ser um poema mais curto e, na sua origem, destinado a ser cantado.
Em Portugal, a endecha foi cultivada do séc. XVI ao séc. XVIII e não possui o fundo fúnebre originário. Trata-se antes de uma composição de tom melancólico e triste em versos de cinco ou seis sílabas, geralmente agrupados em quadras segundo os esquemas rimáticos ABCB, ABAB ou ABBA. O plural endechas deve-se ao facto de a cada quadra se atribuir a designação de endecha e o poema ser constituído por mais de uma estrofe. A famosa composição de Camões «a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbara» é exemplo de endechas apesar de em algumas edições da Lírica também ser designada de trovas. As endechas foram ainda cultivadas por outros poetas tais como Rodrigues Lobo ou Correia Garção.
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