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Continuam por esclarecer alguns aspectos relacionados com a origem deste termo, porém, segundo Luiz Francisco Rebello, deriva provavelmente do entremetz francês que, na Idade Média, era a designação comum para breves divertimentos que ocorriam frequentemente entre os pratos servidos nos banquetes das festas cortesãs. No entanto, a partir dos sécs. XIV e XV, o termo entremez começa a ser utilizado em todas as cortes do ocidente latino, apresentando, porém, um significado impreciso, ao nomear diversos tipos de representações cénicas. Frequentemente, servia para designar pequenas representações de forma rudimentar que ocorriam durante a celebração de casamentos ou coroações na corte, dominadas geralmente por personagens de guerreiros, dançarinos, gigantes, etc., que dramatizavam em estrados montados e decorados propositadamente para esse propósito, onde o espectáculo visual, auditivo e mímico era preponderante sobre o texto literário que, por vezes, era quase inexistente. Contudo, segundo Óscar de Pratt, apenas a parte referente ao texto e à declamação deve receber a designação de entremez, diferenciando-se assim de todos os aspectos relacionados com o cenário e com a coreografia. No entanto, na Catalunha, o mesmo termo também nomeava breves dramatizações profanas que ocorriam casualmente durante as festas ou procissões religiosas, confundindo-se com as representações litúrgicas. É o caso das procissões de Corpus Domini que tiveram lugar em Barcelona, no início do séc. XIV, onde ocorriam, por exemplo, representações do Paraíso, incluindo as personagens de Adão, Eva, a Serpente, etc.

Só no séc. XVI é que o termo se define, designando exclusivamente uma pequena representação de carácter burlesco, composta por canto, dança, gesto, e um texto rudimentar em prosa, que aparecia entre os diferentes actos de uma peça dramática mais longa. Destinava-se a combater o eventual desinteresse do público que porventura se divertiria mais com o carácter episódico e cómico do entremez, identificando-se melhor com estas personagens que punham em cena as fraquezas mais comuns da sociedade humana. A dor e a maldade eram as principais fontes de comicidade destas representações sem quaisquer fins didácticos, que mostravam cenas caricaturais da vida quotidiana, como enganos conjugais ou o escárnio pelo próximo.

O entremez, progressivamente, foi alcançando independência perante a comédia e a tragédia, às quais andara associado na fase anterior. No início do séc. XVII, conheceu um grande desenvolvimento em Espanha e Portugal, tendo adoptado o verso em alguns dos seus textos e tendo perdido o seu carácter episódico em favor da criação de uma história linear que conduzia a um desfecho lógico. Cervantes foi o grande representante do entremez nesta época, tendo influenciado outros autores seus contemporâneos através de obras como El retablo de las maravillas e La guardia cuidadosa.

A designação entremez surge ainda em Portugal no final do séc. XIX, quando é publicada no Porto a Colecção de farsas e entremeses em 21 volumes da autoria de J. Daniel, A. Xavier, Rodrigues Maia e R. Fortuna.

bibliografia

Eugenio Asensio: Itinerario del entremès: desde Lope de Rueda a Quiñones de Benavente (Gredos, 1971); José de Oliveira Barata, Entremez sobre o entremez, Faculdade de Coimbra, Separata de Biblos LIII (1977); Luiz Francisco Rebello: O primitivo teatro português, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, (1977); Id.: “Entremés” in Enciclopedia dello spettacollo – vol.IV, direttore – Luigi Chiarini (1957); M. Simões: “Entremez” in Dicionário de literatura medieval galego e portuguesa – organização e coordenação de Giuseppe Tavani e Giulia Lanciani (1993); Óscar de Pratt: Gil Vicente (1931).