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Do grego gráphein (“inscrição”), uma epígrafe é um texto breve, em forma de inscrição solene, que abre um livro ou uma composição poética. Na época clássica, faziam-se epígrafes ou inscrições em pedras, estátuas, medalhas, monumentos, etc., para conservar a memória de pessoas ilustres ou acontecimentos históricos de relevo. Uma epígrafe designa não só as inscrições que celebram um acontecimento, mas também os títulos descritivos de partes de uma obra ou dos capítulos que a compõem. Ao estudo das epígrafes chama-se epigrafia. Os escritores antigos fizeram pouco uso das epígrafes, mas a epígrafe literária entrou em uso no séc. XVI, tornando-se moda a partir do séc. XVIII. Em França, surge pela primeira vez em 1704, no Dictionaire de Trevoux e daí por diante começou a ser utilizada em toda a Europa.

A epígrafe é um pré-texto que serve de bandeira ao texto principal, por resumir de forma exemplar o pensamento do autor. Tem, pois, a função de um lema ou de uma divisa. O autor pode optar por colocar a epígrafe em página isolada, antes do corpo principal do texto, servindo de abertura solene do livro, pode ocorrer logo abaixo do título de um livro, ou ainda à entrada de um discurso, capítulo de obra extensa ou composição poética. Em certos géneros literários, como os discursos formais ou os sermões, a epígrafe é assumida como parte activa do texto, sendo um ponto de partida de discussão. O recurso à epígrafe não é um exclusivo dos autores literários. O ensaísta Eduardo Lourenço, por exemplo, coloca normalmente uma epígrafe na abertura das suas obras. Não se deve confundir a epígrafe com a dedicatória da obra nem com os resumos de capítulos, como o faz Almeida Garrett em Viagens na Minha Terra.

A epígrafe tanto pode ser uma divisa que resume uma certa ideologia assumida pelo autor como pode servir de introdução etimológica, por exemplo, a uma obra cujo título é enigmático ou ambíguo, como no caso de Esteiros (1941), de Soeiro Pereira Gomes, que abre com esta epígrafe: «Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de lama que só o rio afaga».