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Escola de teoria literária nascida na Universidade de Genebra, sob inspiração da fenomenologia de Husserl, cujos membros são também conhecidos por “críticos da consciência”. O livro do americano J. Hillis Miller, um admirador desta escola no início da sua carreira, fez a história crítica do movimento em Theory Then and Now (1991), onde conclui que a literatura para os teóricos de Genebra é uma forma de consciência, ao passo que a crítica literária constitui “fundamentally the expression of a ‘reciprocal transparency’ of two minds, that of the critic and that of the author, but they differ in their conceptions of the nature of consciousness.” (Harvester Wheatsheaf, Hemel Hempstead, p.14). Para Marcel Raymond (La Sel et la cendre, 1970), a verdadeira crítica literária é antes um trabalho criativo mais consciente do que a próprio o acto de criação da obra de arte. A abordagem que se privilegia é, pois, rigorosamente textual, não biográfica e não contextualista ou histórica, e pressupõe a existência de vários métodos de análise literária, o que significa que a Escola de Genebra não representa uma teoria única de literatura.

A Escola de Genebra floresceu principalmente nas décadas de 40 e 50 e os expoentes foram o belga Georges Poulet, principalmente (autor de Études sur le temps humain, 1949, vol.1, um importante estudo do espaço e do tempo através da história literária, para descobrir o “mundo” próprio de cada escritor; La Distance intérieure, 1952), os críticos suíços Jean Starobinski (L’Oeil vivant, 1961) e Jean Rousset (Forme et signification, 1962) e o francês Jean-Pierre Richard (L’Univers imaginaire de Malarmé, 1961). A esta escola ficaram também ligados o alemão Emil Steiger (Stilwandel, 1963) e o americano J. Hillis Miller, que há-de evoluir para a desconstrução (Charles Dickens: The World of His Novels, 1959; Poets of Reality, 1965). Os trabalhos desta Escola influenciaram os últimos estudos de Bachelard e os primeiros de Barthes. Esta Escola é fenomenológica de forma diferente da de Ingarden: não está interessada na descrição filosófica do objecto estético mas na recuperação da consciência autoral. Estes críticos privilegiaram o estudo da obra de Marcel Proust, autor de À la recherche du temps perdu (1913-27), acreditando que a escrita é o processo pelo qual a experiência deixa de ser muda e toma a aparência das palavras. Isto conduz-nos à consciência do autor que pode não corresponder a um indivíduo em particular mas à mentalidade de uma época. A tarefa do crítico não consiste em deambular pelas forças desta consciência — gramaticais, linguísticas, históricas — mas recuperar a experiência que ela traduz e está codificada no texto. A consciência do sujeito (autor), uma vez assim recuperada, não é biográfica ou psicológica, mas um padrão único de referência que podemos idenficar através de uma relação empática com a obra. Cada autor é único e não é possível prescrever um método de análise universal para descobrir esta consciência. Na prática, uma leitura fenomenológica concentra-se apenas na identificação de temas e Leitmotifs recorrentes. Nesta leitura global de uma obra, não há qualquer distinção entre os textos iniciais do autor e os textos da maturidade, ou entre textos de géneros diferentes, ou entre textos de ficção e textos não ficcionais, porque faz parte de uma só forma de consciência. A obra total do autor — livros, cartas, fragmentos, manuscritos inéditos, etc — é o mais importante. De acordo com Poulet, devemos prestar atenção ao particular em cada obra e quando achamos algo que mais ninguém até aí tinha percebido chegamos à singularidade da obra o que nos permitirá estudar a sua verdadeira intencionalidade. Derrida, como todos os desconstrucionistas, não poupou os fenomenologistas da Escola de Genebra por não terem prestado atenção aos problemas históricos na leitura de obras literárias (v. “Force et signification”, in L’écriture et la différence, 1967). Se é verdade que a desconstrução e as abordagens fenomenológicas procuram ambas a compreensão dos mecanismos de produção de sentido, a proposta de Derrida e seus seguidores é a de revelar os meandros complexos do sentido, jamais fixo no texto, os críticos de Genebra acreditam que a linguagem, e em particular a linguagem poética, permitem-nos aceder a um texto literário livre de indeterminações e instabilidades.

{bibliografia}

Albert Béguin : L’Ame romantique et le rêve (1937) ;
id.: Poésie de la présence (1957) ; Georges Poulet:
Études sur le temps human, 4 vols.
(1949-68); id.:  La
Conscience critique
(1971) ; id.: “Phenomenology of Reading”,
New Literary History, 1 (Oct. 1969); id.: La Poésie
éclatée
(1980); Jean-Pierre Richard: Littérature et
sensation
(1954) ; id.: Microlectures I-II

 (1979-84) ; Jean Rousset: Forme et signification
(1962) ; id.: L’ Intérieur et l’extérieur (1968) ; Jean
Starobinski: L’Oeil vivant (1961) ; L’Oeil vivant II :
La Relation Critique
(1970) ; id. : 1789: Les Emblèmes de
la raison
(1973) ; id. : Les Mots sous les mots: Les
Anagrames de Ferdinand de Saussure
(1971) ; id. :

Portrait de l’artiste en saltimbanque (1970) ; J. Hillis
Miller: Ethics of Reading (1987); id.: “The Geneva School”,
in Modern French Criticism, ed. por J. K. Simon (1972);
Marcel Raymond:  De Baudelaire au surréalisme (1933) ;
Paul de Man : «The Literary Self as origin : The Work of George
Poulet », in Blindness and Insight (1971).