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De uma forma geral, chamamos Estudos Culturais à disciplina que se ocupa do estudo dos diferentes aspectos da cultura, envolvendo, por exemplo, outras disciplinas como a história, a filosofia, a sociologia, a etnografia, a teoria da literatura, etc. Trata-se de uma disciplina académica, cujas origens é possível determinar, sendo habitual ligar essa origem ao próprio desenvolvimento do pós-modernismo e às suas celebrações contra a alta-cultura e as elites sociais, aos seus debates sobre multiculturalismo que têm tido particular expressão nos Estados Unidos, à sua ênfase nos estudos sobre pós-colonialismo, que ajudaram a criar uma nova disciplina dentro dos Estudos Culturais, e às suas manifestações sobre cultura popular urbana, por exemplo. O pós-modernismo está marcado pela presença totalitária de ismos ¾ expressionismo abstracto, desconstrucionismo, funcionalismo, transvanguardismo, transvestismo, neo-conservadorismo, neo-colonialismo, neo-fascismo, neo-liberalismo, neo-marxismo, feminismo, lesbianismo radical, etc., etc. ¾ e pela ausência de um ismo universal e amplamente significativo ¾ para o qual também existe um ismo: eclectismo (ou pluralismo, termo que passou à condição de paradigma pós-moderno). Outra forma de traduzir o significado amplo do pós-modernismo é fazê-lo corresponder ao que se entende, grosso modo, por cultura. Todos esses ismos podem funcionar como um programa de Teoria da Cultura ou de Estudos Culturais, em qualquer dos casos, disciplinas que se instalaram institucionalmente sob a bandeira do pós-modernismo. Hoje, existem em quase todas as faculdades de letras ou de ciências sociais e humanas. Um caso paradigmático, geralmente citado em qualquer retrospectiva sobre a génese do estudo académico dos Estudos Culturais e da Teoria da Cultura, é o do Departamento de Estudos Culturais da Universidade de Birmingham. Nesta mesma Universidade, nasceu uma das mais respeitadas instituições culturais da Academia: o Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (Centre for Contemporary Cultural Studies), por muitos considerado o mais importante centro inglês, responsável pela solidificação dos Estudos Culturais enquanto disciplina curricular. Rapidamente, um pouco por todo o lado, este tipo de centros de investigação nasceram e desenvolveram-se nos últimos vinte anos, sobretudo. A nível da edição de revistas, para além das edições departamentais ou universitárias, a Methuen e depois a Routledge, desde 1987, publicam a importante Culture Studies, que possui grupos editoriais quer no Reino Unido quer nos Estados Unidos e Austrália.

De forma mais ou menos consensual, considera-se que a designação de Estudos Culturais é anterior à fundação do Centro de Birmingham (1964) e surge a partir dos trabalhos do professor inglês Raymond Williams, sobretudo depois da publicação do livro Culture and Society: 1780-1950 (1958), onde investiga os diferentes usos históricos do termo cultura e apela para a urgência do debate sobre esta ideia no contexto intelectual inglês; do livro Uses of Literacy (1958), de Richard Hoggart (primeiro director do Centro de Birmingham), que é um trabalho sobre a cultura das classes trabalhadoras e também de ruptura com a tradição leavisiana de análise cultural; e do livro de E. P. Thompson The Making of the English Working Class (1963). O desenvolvimento dos Estudos Culturais está ligado aos desenvolvimentos curricular e institucional. Tornou-se e ainda se torna necessário aos Estudos Culturais estabelecer uma relação de interdisciplinaridade mais do que institucional com as ciências sociais e com as “humanidades”/”humanísticas” e apela-se ainda hoje à transformação dos chamados estudos humanísticos em estudos de ”ciências humanas”.

Em termos de representação académica dos Estudos Culturais, eles existem sobretudo como complemento dos cursos universitários onde estão inseridos, apontando os objectivos que definem para a correlação com a comunicação (se for um curso de comunicação e cultura), para a história (se for um curso de história) ou para a literatura (se for um curso de estudos literários). A situação não é exclusiva das universidades portuguesas, pois a mesma filiação dos Estudos Culturais em departamentos e cursos de ciências sociais e humanas pode ser encontrada nos Estados Unidos, na Alemanha, no Reino Unido ou na França. Contudo, a crescente mais valia destes estudos, reforçada por uma produção crítica e teórica recente, deixa entrever a possibilidade de, num futuro próximo, podermos encontrar um lugar próprio para os Estudos Culturais. Entre nós, mesmo que os estudos teóricos da cultura sejam muito raros ¾ e é precisamente o facto de todos os estudos recentes sobre cultura serem essencialmente teoréticos que conduziu à emergência da Teoria da Cultura como disciplina autónoma ¾, a presença visível de disciplinas de cultura nos currículos universitários favorecerá o nascimento e o desenvolvimento de debates que, por enquanto, nos têm passado quase ao lado. No entanto, não devem disciplinas como Teoria da Cultura e Estudos Culturais limitar-se à discussão académica de um dado número de problemas que decorrem das sociedades modernas. Devem também propor mudanças estruturais, sugerir desenvolvimentos culturais, levantar questões sobre o próprio sentido do termo cultura. Este sentido não pode ficar limitado a propostas do tipo “sociedade de consumo=sociedade pós-moderna” (Baudrillard), “sociedade pós-industrial=sociedade pós-moderna” (Bell) ou “cultura popular=cultura pós-moderna” (Jameson). O sentido da cultura na dominante pós-moderna passará pela reavaliação de todas estas terminologias contextualizadas em várias situações de crise, por exemplo: sociedade/consumismo, sociedade/meios rápidos de transporte e de comunicação, realidade/hiper-realidade, arte/multimedia, masculino/ feminismo, etc.

Há hoje uma distinção sólida entre Estudos Culturais e Teoria da Cultura. O conjunto de questões de que os teóricos da cultura se têm ocupado acabou por fazer o programa da disciplina de Teoria da Cultura. As variações vão desde os estudos pós-coloniais às opressões culturais, incluindo os estudos sobre género, diferenças, feminismo, masculinismo, homossexualidade, teorias marxistas sociais, crítica das práticas tradicionais da política, da antropologia, da literatura e da estética, implicações de temas como o utilitarismo, o estruturalismo, o culturalismo, as culturas populares, as metaficções, o pós-modernismo, etc. Estes são campos de trabalho para os Estudos Culturais; a Teoria da Cultura é o domínio de estudos interdisciplinares dentro desses campos de trabalho que envolve uma forte componente teórica. Da mesma forma que nos estudos teóricos da literatura se devem estudar temáticas culturais com implicações literárias, também nos estudos teóricos da cultura se deve observar o papel da literatura na construção cultural de uma sociedade. O vocabulário dos Estudos Culturais apreende-se nas várias disciplinas que aqui intervêm. A aprendizagem da Teoria da Cultura faz-se pela leitura crítica de textos significativos nesta área.

{bibliografia}

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