Auto-consciência da especificidade cultural e social de um grupo particular; o facto de se pertencer a um grupo culturalmente ligado. O termo foi primeiro proposto pelo sociólogo norte-americano David Riesman, que, em 1950, publica The Lonely Crowd (de parceria com Reuel Denney e Nathan Glazer), contudo o adjectico étnico é mais antigo (do grego ethnos, por sua vez um derivado de ethnikos, “pagão”, “idólatra”, “bárbaro”). Até ao século XIX, este é o sentido da palavra étnico. Por volta da Segunda Guerra Mundial, o termo aplica-se de forma pejorativa a todos os grupos (judeus, italianos, irlandeses, etc.) que se formam em comunidade nos Estados Unidos. A sociologia e antropologia contemporâneas e os estudos culturais pós-modernos tomaram o conceito de etnicidade como um dos temas preferidos, a par de conceitos como raça, nação, nacionalismo, pós-colonialismo e outros. Pierre van den Berghe (1987) considera as questões raciais como apenas um dos aspectos da etnicidade, o que nos parece ser uma clarificação correcta da diferença essencial entre os dois termos. Se quisermos, por outro lado, distinguir etnicidade e nacionalismo, devemos atender ao facto de o primeiro não estar dependente de uma relação estreita com o Estado, condição necessária à fundação de qualquer ideia de nacionalismo. No que respeita à distinção entre etnicidade e classe (nas duas principais acepções do termo em Marx e em Max Weber), note-se que o conceito de etnicidade não está preso a questões de hierarquização social ou de distribuição do poder político e económico, condições fundamentais da constituição do conceito de classe. A tradição cultural é, quase sempre, o principal critério de hierarquização de etnias dentro de um mesmo grande grupo social misto e são as diferenças que existem entre as tradições que permitem o estabelecimento de hierarquias étnicas, não entrando aqui questões de propriedade ou de poder adquirido por força de uma acção política.
A maior parte dos conflitos mundiais depois da Segunda Guerra Mundial são de origem étnica e circunscrevem-se a um mesmo espaço nacional, que podem ir das guerras civis e tribais em muitos países africanos até a conflitos pacíficos de reclamação de uma identidade nacional própria como a luta dos quebequianos no Canadá.
As principais preocupações dos estudos sobre etnicidade são, portanto, a definição da natureza das relações étnicas, a percepção do papel social dos indivíduos no seu próprio grupo e as políticas internacionais de protecção da identidade dos diferentes grupos. Um programa de estudos culturais sobre etnicidade avaliará, entre outras, as seguintes questões (adaptado de Thomas Hylland Eriksen, http://www.uio.no/~geirthe/Ethnicity.html): 1) Como é que se garante a individualidade étnica perante condições sociais distintas? 2) Em que condições podemos realçar a importância da etnicidade? 3) Qual a relação entre identidade étnica e organização política de etnias? 4) Será o nacionalismo sempre uma forma de etnicidade? 5) Qual a relação da etnicidade com outros tipos de identidade, classificações sociais e organizações políticas como as questões de género e classe? 6) O que acontece às relações étnicas em sociedades industrializadas? Qual a relação entre etnicidade e cultura?
John Hutchinson e Anthony D. Smith (eds.): Ethnicity (1996); Marcus Banks: Ethnicity: Anthropological Constructions (1995); Michael M. J. Fischer: “Ethnicity and the Post-Modern Arts of Memory” (in Writing Culture, ed. por James Clifford e George E. Marcus, 1986); Pierre L. van den Berghe: Pierre L. van den Berghe: The Ethnic Phenomenon (1987); Siân Jones: The Archaeology of Ethnicity: Constructing Identities in the Past and Present (1997); Werner Sollons: “The Idea of Ethnicity” (in The Fontana Post-Modernism Reader, ed. por Walter Truett Anderson, 1996).
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