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A etnometodologia não é uma doutrina homogénea, mas uma tendência das ciências sociais que surgiu nos Estados Unidos da América, no final dos anos 30 do nosso século. Os etnometodólogos privilegiam o estudo do sentido que os actores e os agentes sociais atribuem à sua própria prática social, rompendo assim com as tendências objectivantes que tendem a considerar o sentido que os sujeitos atribuem à sua acção como mero reflexo deformado das determinações estruturais do sistema social. Assim, ao contrário do marxismo que considera a infraestrutura económica como determinante em última instância da consciência que os indivíduos possuem da sua acção, a etnometodologia considera a consciência que os indivíduos possuem da sua acção como constitutiva do seu próprio sentido. Mas a etnometodologia rompe igualmente com o behaviorismo, então dominante nos Estados Unidos. Ao contrário dos autores behavioristas, que procuram estender ao estudo dos fenómenos sociais os mesmos procedimentos utilizados no estudo das ciências da natureza, os etnometodólogos insistem na especificidade dos fenómenos sociais, propondo por isso uma metodologia diferente tanto para a sua explicação como para a sua descrição e compreensão.

Foi o ensino que, a partir de 1932, Alfred Schütz (1899-1959) ministrou na School for Social Research de New York que esteve na origem do movimento a que viria a ser dado o nome de etnometodologia, apesar de esta designação só aparecer a partir dos meados dos anos 40, provavelmente por ter sido o nome que H. Garfinkel viria a utilizar para caracterizar o seu estudo das estratégias utilizadas pelos jurados do tribunal de Chicago para tomarem as suas deliberações, a partir da gravação clandestina das suas discussões.

Schütz, antes de emigrar para Nova Iorque, tinha estudado em Viena e seguido as lições de Edmund Husserl (1859-1938). Mas é também evidente a influência que Max Weber (1864-1920) exerceu sobre os seus trabalhos. De Weber adoptou o conceito de tipo ideal assim como a concepção de Sociologia, considerando-a como a disciplina que estuda o sentido que os próprios agentes e actores sociais atribuem à sua actividade.

Os autores que reivindicam para si os procedimentos da etnometodologia costumam fundamentar teorica e metodologicamente as suas perspectivas no princípio fenomenológico de exigência de retorno às próprias coisas, tal como Edmund Husserl.

A etnometodologia é mais uma atitude do que uma escola propriamente dita. No entanto, podemos identificar algumas características comuns aos autores que se consideram etnometodólogos, nomeadamente o predomínio dos estudos empíricos, da observação no terreno das práticas sociais, o interesse pela vida quotidiana e pela linguagem natural, a utilização das noções e das categorias de actor social, de quadros da experiência, de interacção social, de criatividade, de consenso, de saber ordinário.

{bibliografia}

Alfred Schütz, On Phenomenology and Social Relations, Univ. Chicago Press, 1984; A. Cicourel, La Sociologie Cognitive, Paris, P.U.F., 1979; H. Garfinkel, Studies in Ethometodology, Englewood Cliffs, Prentice Hall, 1967; Erving Goffman, La Mise en Scène de la Vie Quotidienne, tomo 1. La Présentation de Soi, Paris, ed. Minuit, 1956-1973; tomo 2. Les Relations en Public, Paris, ed. de Minuit, 1973; Asiles. Etudes sur la Condition Sociale des Malades Mentaux, Paris, ed. de Minuit, 1968; Stigmates. Les usages Sociaux des Handicapés, Paris, ed. de Minuit, 1975; Les Rites d’Interaction, Paris, ed. de Minuit, 1974; Façons de Parler, Paris, ed. de Minuit, 1987; Les Cadres de l’Expérience, Paris, ed. de Minuit, 1992.