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Figura de retórica que procede à substituição de uma expressão rude ou desagradável por uma outra que amenize o discurso, embora sem alterar o sentido, por exemplo, “ir para outro mundo” ou “Tirar Inês ao mundo determina” (Camões, Os Lusíadas, III, 123) em vez de “morrer” ou “pessoa de poucos recursos financeiros” por “pobre”. O termo é de origem grega (euphemismos, “bem dizer”) e desde sempre foi utilizado para designar as formas dissimulação de sentimentos desagradáveis, de pensamentos cruéis ou de palavras tabu, que se evitam pelo recurso a uma linguagem mais amaviosa, sem se perder o sentido original de vista. De alguma forma, todas as literaturas de vanguarda tendem a rejeitar o recurso ao eufemismo, por o considerarem uma forma puritana de expressão que quer fugir da representação fiel da realidade em todas as suas acentuações, sejam elas cruéis ou agradáveis. Tal não significa que o seu oposto, o disfemismo, seja a forma preferida. Trata-se de um recurso de atenuação da expressão que pode ser conseguido combinando-se com outras figuras: uma metáfora ou uma metonímia servem, por exemplo, muitas vezes para amenizar uma ideia repugnante ou cruel (diz-se Televisão de pobre é buraco de fechadura. em vez de Os pobres não têm televisão). A dupla negativa amplamente utilizada em português ou a simples expressão de uma coisa negativa pelo seu lado positivo (litotes) são exemplos dos efeitos antitéticos que o eufemismo também privilegia, por vezes, como nas expressões “não ignoro que”, “não nego que”, “não esqueci” (por “lembrei-me”), etc., fórmulas que entram em qualquer discurso com intenção diplomática, para evitar ferir a susceptibilidade de quem se apresenta como interlocutor. Os puristas da língua tenderão a rejeitar estas redundâncias da linguagem.

{bibliografia}

D. J. Enright (ed.): Fair of Speech: The Uses of Euphemism (1985); Emilio Montero Cartelle: “El eufemismo: Sus repercusiones en el lexico”, Senara (Vigo), 1 (1979); Ginette Demers: “L’Euphemisme en anglais et en français”, Langues et Linguistique (Ste. Foy, Canadá), 17 (1991); Heinz Kroll: O Eufemismo e o Disfemismo no Português Moderno (1984); Joseph Epstein: “Sex and Euphemism”, Commentary (Nova Iorque), 77/4 (1984); Miguel Casas Gomez: “A proposito del concepto linguistico de eufemismo como sincretismo lexico: Su relación con la sinonimia y la homonimia”, Iberomania (Tubingen), 37 (1993); Ricardo Senabre: “El eufemismo como fenomeno linguistico”, Boletin de la Real Academia Española, 51 (1971).