Termo retórico latino para uma narrativa curta de carácter moralista e que pode servir de paradigma em relação ao assunto de que trata. Prefere-se, em regra, o termo original em vez da tradução exemplo, por tratar-se de um género codificado na literatura medieval moralista, escrita e divulgada sobretudo em latim, embora a tradução portuguesa surja em Fernão Lopes e Gil Vicente com um sentido mais próximo do que hoje chamamos provérbio. Os oradores gregos antigos já faziam uso do exemplo para ilustrar os seus discursos e Aristóteles, nos Primeiros Analíticos (II, 24), teoriza sobre o seu significado lógico. Os exempla constituem, na opinião de Ernst Robert Curtius, a continuação de uma filosofia da vida que já os poetas antigos praticavam, existindo provas disso desde o comentário de Aristóteles sobre os apotegmas e das regras de vida dos antigos (Retórica, II, 21), até às referências que Quintiliano faz das sentenças ou juízos que se compilavam para facilitar a consulta de oradores profissionais. Porém, nos estudos literários, o termo refere-se inicialmente às histórias integradas nos sermões medievais para ilustrar um ponto forte de um discurso, como se verifica em textos do século XIV em The Pardoner’s Tale, de Chaucer, em Confessio Amantis, de Gower ou em Libro de los exemplos por abc, do clérigo Clemente Sánchez de Vercial. Os manuais de ensino religioso continham inúmeros exempla, como o célebre Gesta Romanorum ou o Liber exemplorum ad usum praedicantium. Estas fontes de apólogos de características didactico-morais serviam, muitas vezes, de inspiração aos oradores profissionais. Encontram-se especímenes em português por exemplo na narrativa “Castelo Perigoso” (Códice Alcobacense nº 199, BN) e, sobretudo, em Horto do Esposo (Códice Alcobacense nº 198 e nº 212, BN), de autor desconhecido, obra que encerra numerosas narrativas moralistas de temas variados, procurando sempre a autoridade dos mais importantes doutores da Igreja católica. De notar que esta prática não se esgota no espaço medieval, por exemplo pregadores como Padre Manuel Bernardes (Exercícios Espirituais) ou Padre António Vieira (Sermão da Sexagésima) fazem frequente uso de exempla nos seus sermões.
C. Brémond, J. Le Goff e J.-C. Schmitt: Les exempla: Typologie des sources du Moyen Âge occidental (1982); Ernst Robert Curtius: Literatura Europeia e Idade Média Latina (São Paulo, 1996); Mário Martins: Alegorias, Símbolos e Exemplos Morais da Literatura Medieval Portuguesa (2ªed., 1980).
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