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Expressão proposta por W. K. Wimsatt, Jr. e M. C. Beardsley, em “The Intentional Fallacy” (1946), para designar a determinação errónea da leitura crítica de um texto literário a partir da recepção que esse texto provoca no leitor, em particular nos casos em que é a afectividade deste que conduz a leitura. Em termos gerais, falamos de falácia afectiva quando produzimos juízos críticos condicionados por valores afectivos, que deviam ser excluídos da crítica literária. Um exemplo de falácia afectiva, seria ler a “Ode triunfal” de Fernando Pessoa como um poema desprovido de ética cristã ou como um texto inadequado à boa formação moral de uma sociedade. Uma leitura positivista também pode ser falaciosa, por exemplo se se ler a “Ode triunfal” como um texto unicamente de deslumbramento futurista, sem atender a qualquer outro aspecto.

O conceito de falácia afectiva pode ser aplicado desde logo à teoria aristotélica sobre a catarse que a tragédia clássica provoca nos espectadores e mesmo à teoria de Longino sobre o “transporte”; aplicar-se-á ainda a todas as abordagens que privilegiem a análise de sinestesias, sublimações ou formas de empatia entre o poeta e o seu público. Na essência, segue o mesmo princípio ilusório da falácia inten-cional, porque se acredita numa concepção da arte como criação autotélica. A única saída crítica para estas metodologias é o biografismo e o relativismo, tal como se verificava na segunda metade do século XIX, quando se privilegiava a crítica impressionista da literatura, aquela que se limitava a encontrar respostas emocionais para textos supostamente carregados de emoções, sem investigar a origem da experiência literária. Uma contra-argumentação para esta crítica da falácia afectiva dirá que o resultado a alcançar, ignorando as emoções que a obra de arte desperta, é o da mera descrição objectiva, acreditando que a obra de arte é um objecto de estudo de cuja essência não participa nem o leitor nem o próprio autor. Falamos, neste caso, de falácia objectiva.

Críticos como David Daiches insistem ainda na defesa da abordagem expressiva da literatura, em especial da poesia, porque desta forma o leitor pode encontrar-se mais próximo do momento de criação literária, compreendendo assim, por exemplo, a técnica da composição do texto analisado. Em “The ‘New Criticism’: Some Qualifications” (in Literary Essays, Edinburgh, Oliver and Boyd, 1956), defende que negar a validade dos potenciais efeitos que a literatura exerce sobre o leitor conduzirá a uma “falácia ontológica”, isto é, a crença na ideia de a obra de arte poder realizar-se apenas pelo facto em si mesmo de ser uma obra de arte. A missão do crítico seria, neste caso, a de demonstrar descritivamente o modo de ser da obra de arte.

As falácias críticas que dependem da postura do leitor perante o texto literário – (1) relação afectiva se a resposta for emocional; (2) relação intencional, se a resposta for dirigida para a génese do texto; (3) relação objectiva, se a resposta se concentrar unicamente no próprio texto – partem do princípio (por demonstrar) de que é possível reduzir a crítica literária a uma espécie de ciência das emoções ou da aprendizagem do conhecimento, conforme o caso. Se não existe uma teoria unificadora é porque não há unidade na definição do objecto da crítica; se não assiste a razão a uma postura em relação às restantes é porque o exercício da crítica literária precisa, ao mesmo tempo, de ficar atento a todas as circunstâncias sem excluir nenhuma delas na investigação hermenêutica.

Bibliografia:

C. Monroe Beardsley: Aesthetics: Problems in the Philosophy of Criticism (1958); Mark Spilka: “The Affective Fallacy Revisited”, Southern Review, South Australia, I, 3 (1965); John V. Hagopian: “In Defense of the Affective Fallacy”, Southern Review, South Australia, I, 3 (1965); W. K. Wimsatt e M. C. Beardsley: “The Intentional Fallacy” e “The Affective Fallacy”, in The Verbal Icon – Studies in the Meaning of Poetry, Noonday Press, Nova Iorque, 1964.