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Certas perspectivas críticas defendem que a literatura é um objecto de estudo em si mesmo, independentemente de quaisquer referências externas, intenções autorais, relações comparatistas ou resultados de respostas do leitor. Nesta perspectiva autotélica, o texto literário vale por si mesmo e não precisa de outras referências para ser compreendido. A doutrina objectiva da crítica literária nasce como contra-proposta à denúncia da falácia afectiva, que representa o seu oposto. Earl Miner observa que o princípio de resistência à especulação sobre a intenção do autor conduz à eliminação do texto literário do próprio objecto da crítica. A consequência que daí nasceu foi a substituição do autor e do leitor pela figura tutelar do crítico. “A poem became a literary object somehow divorced from its creator or re-creator and the sole property of the critics subjecting it to analysis. If the literary object becomes a more or less literalized metaphor, it is naturally given the attributes of other objects, such properties as structure, form, space or speed, weight, coloring, content, dimension, tension, and so on. A general tendency in criticism has been to concede the metaphorical status of such terms but often to use them as if they are literal.” (1976, p.13). Miner, que terá inventado esta falácia que nega a possibilidade de o texto literário poder ser considerado um objecto, considera que a obra de arte literária apenas existe no acto de leitura, acto que é possível por causa da capacidade “cerebral” que possuímos para ler um texto. Wellek e Ingarden, criticados por Miner, chegaram, contudo, a uma conclusão menos radical, tomando a existência objectiva da obra de arte literária como um sistema verbal de estratos. Como bem comenta Joseph Strelka, “the main confusion seems to derive from the fact that the only way to grasp and realize the work of art is through its ‘concretization’ (Ingarden) or ‘knowledge’ (Miner), neither of which is identical with the work.” (1977, p.599). De notar que Miner ainda acrescenta à falácia objectiva uma outra, a falácia da obra de arte literária como uma estrutura viva “orgânica”. Esta ideia é igualmente arriscada, pois nenhum crítico literário levou alguma vez a sério o conceito de texto literário como uma matéria “orgânica”, tão viva e dinâmica como outras realidades biológicas, metáfora que não pode lida para além do facto de ser apenas uma metáfora. A advertência final de Strelka parece ser ajuizada: “the phenomenological method of Wellek and Ingarden is much more appropriate to literature than the scientific method of Earl Miner, whose psychological and brain-oriented physiologism encompasses even greater methodological dangers than the good old psychologism of I. A. Richards (1924)”. (1977, p.603.

{bibliografia}

Earl Miner: “The Objective Fallacy and the Real Existence of Literature”, PTL: A Journal for Descriptive Poetics and Poetry, 1 (1976); Id.: “The Objective Fallacy, etc.”, PTL: A Journal for Descriptive Poetics and Poetry, 2 (1977); Joseph Strelka: “Earl Miner, the Objective Fallacy, and the two Hemispheres”, PTL: A Journal for Descriptive Poetics and Poetry, 2 (1977).