Ramo da Linguística que estuda os sistemas sonoros das línguas do ponto de vista da sua função no sistema de comunicação linguística. Da grande quantidade de sons que o aparelho vocal humano consegue produzir, e que é estudado pela fonética, apenas uma pequena parte é usada distintivamente em cada língua, aspecto que é precisamente desenvolvido pela fonologia. A fonologia obriga, portanto, a um exercício de abstracção a partir do nível sonoro das línguas, exercício cujo objectivo consiste na procura de generalizações significativas através da análise de fonemas, segmentos, traços distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de acordo com a teoria usada. Esta mesma análise, da qual os estudos sintácticos e morfológicos constituem complementos, determina, por sua vez, a organização de um sistema de contrastes sonoros que permitem, por exemplo, explicitar as unidades fonológicas que distinguem , numa mesma língua, duas mensagens de sentido diferente (veja-se a título de exemplo a diferença fonológica no início das palavras do português – bala e mala).
Muito embora os estudos fonológicos se tenham iniciado num período histórico bastante recuado, a emergência da fonologia como ciência linguística só ocorre na primeira metade do século XX com o desenvolvimento do estruturalismo nos Estados Unidos e na Europa. Os trabalhos do Círculo de Praga, em particular as contribuições de Nikolai S. Trubetzkoi e de Roman Jakobson, permitiram reconhecer o princípio de oposição fonológica como a base da organização dos sistemas sonoros, ao passo que o estruturalismo americano, no qual se devem destacar figuras como Bloomfield e Edward Sapir, baseou o seu conceito de fonema em critérios essencialmente distribucionistas
Em 1968, a publicação da obra The Sound Pattern of English de Chomsky e Halle irá constituir uma viragem na orientação dos estudos fonológicos efectuados até então ao introduzir a fonologia generativa. Contrariamente à interpretação estruturalista da fonologia como um nível autónomo de descrição linguística, a gramática generativa considera e existência de traços fonéticos, fonológicos, morfológicos e sintácticos, pelo que o fonema enquanto unidade básica de descrição fonológica é substituído pelo que se convencionou chamar de distinctive features of a universal character (princípios substantivos universais).
Nos estudos críticos realizados na sequência da publicação de The Sound Pattern of English, surgiram diversas discussões em torno de determinadas insuficiências da teoria , sobretudo à medida que a mesma era testada em línguas com características diferentes do Inglês. Estes estudos, desenvolvidos sobretudo a partir da segunda metade da década de 70, contribuíram para o aprofundamento da análise de determinados traços prosódicos, nomeadamente o tom, a duração e a acentuação, aspectos que constituem o outro grande domínio da fonologia, além do estudo das unidades mínimas distintivas ou fonemas.
As investigações acerca do tom assumiram um papel importante para o desenvolvimento da fonologia autossegmental, teoria que baseou os seus estudos iniciais em línguas tonais, cuja estrutura sugere a existência de generalizações sobre a distribuição dos tons em representações subjacentes. Contrariamente à fonologia clássica, esta teoria considera que as representações fonológica e fonética não consistem numa única cadeia de segmentos.
A fonologia métrica, mais uma reformulação recente da teoria generativa, resultou do crescente interesse pelo estudo da acentuação. Segundo esta perspectiva fonológica, a acentuação resulta da relação entre sílabas em vez de se assumir como uma propriedade intrínseca das mesmas, abordagem que permite considerar este traço prosódico sob o ponto de vista sintagmático.
Além destas abordagens fonológicas, muitas outras se desenvolveram e aprofundaram nos últimos vinte anos do século XX, tais como, a fonologia das partículas (Sanford Shane, 1982), a fonologia lexical (Kiparski) ou a fonologia atómica, entre muitas outras, facto que comprova a actualidade dos estudos fonológicos.
John Clark: An Introduction to Phonetics and Phonology (1996); Maria Helena Mira Mateus: Fonética, Fonologia e Morfologia do Português (1990); Maria Helena Mira Mateus e Alina Villalva (org.): Novas Perspectivas em Fonologia (1985); Noam Chomski e Morris Halle: The Sound Patter of English (1968); Pierre Léon et alii: La Phonologie: lectures – les écoles et les théories (1977); Stephen R. Anderson: Phonology in the Twentieth Century: Theories of Rules and Theories of Representation (1985).
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