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Movimento artístico e literário que teve origem no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, e que se desenvolve na Europa, sobretudo em Itália, com os trabalhos de F. T. Marinetti, que estudara em Paris, onde publicou La conquête des étoiles (1902) e Destruction (1904), livros que despertaram o interesse de escritores de créditos já firmados na época como P. Claudel. Como principais representantes da escola italiana de Marinetti temos : Paolo Buzzi (1874-1956), Ardengo Soffici (1879-1964), Giovanni Papini (1881-1956), Enrico Cavacchioli (1884-1954), Corrado Govoni (1884-1965), Aldo Palazzeschi (1885-1974), Luciano Folgore (1888-1966). Mas foi Marinetti o maior protagonista do futurismo e foi ele quem elaborou o primeiro manifesto futurista, publicado em Le Figaro, em 1909, cujo original em italiano contém as seguintes premissas:

1. Noi vogliamo cantare l’amor del pericolo, l’abitudine all’energia e alla temerità.

2. Il coraggio, l’audacia, la ribellione, saranno elementi essenziali della nostra poesia.

3. La letteratura esaltò fino ad oggi l’immobilità pensosa, l’estasi e il sonno. Noi vogliamo esaltare il movimento aggressivo, l’insonnia febbrile, il passo di corsa, il salto mortale, lo schiaffo ed il pugno.

4. Noi affermiamo che la magnificenza del mondo si è arricchita di una bellezza nuova: la bellezza della velocità. Un automobile da corsa col suo cofano adorno di grossi tubi simili a serpenti dall’alito esplosivo… un automobile ruggente, che sembra correre sulla mitraglia, è più bello della Vittoria di Samotracia.

5. Noi vogliamo inneggiare all’uomo che tiene il volante, la cui asta ideale attraversa la Terra, lanciata a corsa, essa pure, sul circuito della sua orbita.

6. Bisogna che il poeta si prodighi, con ardore, sfarzo e munificenza, per aumentare l’entusiastico fervore degli elementi primordiali.

7. Non v’è più bellezza, se non nella lotta. Nessuna opera che non abbia un carattere aggressivo può essere un capolavoro. La poesia deve essere concepita come un violento assalto contro le forze ignote, per ridurle a prostrarsi davanti all’uomo.

8. Noi siamo sul promontorio estremo dei secoli!… Perché dovremmo guardarci alle spalle, se vogliamo sfondare le misteriose porte dell’Impossibile? Il Tempo e lo Spazio morirono ieri. Noi viviamo già nell’assoluto, poiché abbiamo già creata l’eterna velocità onnipresente.

9. Noi vogliamo glorificare la guerra -sola igiene del mondo- il militarismo, il patriottismo, il gesto distruttore dei libertarî, le belle idee per cui si muore e il disprezzo della donna.

10. Noi vogliamo distruggere i musei, le biblioteche, le accademie d’ogni specie, e combattere contro il moralismo, il femminismo e contro ogni viltà opportunistica o utilitaria.

11. Noi canteremo le grandi folle agitate dal lavoro, dal piacere o dalla sommossa: canteremo le maree multicolori o polifoniche delle rivoluzioni nelle capitali moderne; canteremo il vibrante fervore notturno degli arsenali e dei cantieri incendiati da violente lune elettriche; le stazioni ingorde, divoratrici di serpi che fumano; le officine appese alle nuvole pei contorti fili dei loro fumi; i ponti simili a ginnasti giganti che scavalcano i fiumi, balenanti al sole con un luccichio di coltelli; i piroscafi avventurosi che fiutano l’orizzonte, le locomotive dall’ampio petto, che scalpitano sulle rotaie, come enormi cavalli d’acciaio imbrigliati di tubi, e il volo scivolante degli aeroplani, la cui elica garrisce al vento come una bandiera e sembra applaudire come una folla entusiasta.

(Le premier Manifeste du futurisme : édition critique avec, en fac-similé, le manuscrit original de F.T. Marinetti, Éditions de l’Université d’Ottawa, 1986)

Marinetti apelava não só a uma ruptura com o passado e com a tradição mas também exaltava um novo estilo de vida, de acordo com o dinamismo dos tempos modernos.

No plano literário, a escrita e a arte são vistas como meios expressivos na representação da velocidade, da violência, que exprimem o dinamismo da vida moderna, em oposição a formas tradicionais de expressão. Rompe-se com a tradição aristotélica no campo da literatura, que já estava enraízada na cultura ocidental. O futurismo contesta o sentimentalismo e exalta o homem de acção. Destaca-se a originalidade, que Marinetti procura pelo elogio ao progresso, à máquina, ao motor, a tudo o que representa o moderno e o imprevisto. No Manifesto Técnico da Literatura (1912), Marinetti evoca a libertação da sintaxe e dos substantivos. É neste sentido que os adjectivos e os advérbios são abolidos, para dar mais valor aos substantivos. A utilização dos verbos no infinito, a abolição da pontuação, das conjunções, a supressão do “eu” na literatura e o uso de símbolos matemáticos são medidadas inovadoras. De igual modo, aparecem novas concepções tipográficas ao surgir a recusa da página tradicional. Assim, procura-se a simultaneidade de formas e sensações e é na poesia que o futurismo encontra a sua melhor expressão.

O futurismo influenciou a pintura, a música e outras artes como o cinema. Neste aspecto, Marinetti sugeriu que se fizesse um filme futurista que surgiu com o título Vida Futurista (1916). Neste filme, levantaram-se problemas de âmbito social e psicológico. O cinema era então visto como uma nova arte de grande alcance expressivo.

Com o começo da Primeira Guerra Mundial, os valores do mundo tradicional são postos em causa e daí que se agrave um clima de tensão social que se vinha arrastando por alguns anos. Os valores ditos burgueses começam a serem questionados e o mesmo acontece às formas de arte que representam esse mundo. Consequentemente, o futurismo surge como resultado dessa ruptura na arte, assim como o criacionismo, o dadaísmo, o cubismo, o ultraísmo, o orfismo e o surrealismo. O futurismo foi responsável pelo aparecimento de numerosos manifestos e exposições que provocaram escândalos.

O futurismo sempre teve a sua faceta política. Marinetti fomenta o esplendor da guerra, do militarismo, do patriotismo, e depois torna-se um defensor convicto do fascismo italiano. O futurismo caracteriza a vida moderna na sua fragmentação, nos contrastes de classes, na agressividade social e por isso se serve dos manifestos para a retórica política.

O futurismo difunde-se em vários outros países, para além da Itália e da França, incluindo Portugal. Segundo Pedro Oliveira, o jornal português Diário dos Açores seria o único a reproduzir o primeiro manifesto futurista de Marinetti e a publicar uma entrevista do mesmo teorizador. Posteriormente, Mário de Sá-Carneiro e Álvaro de Campos aderem ao futurismo, assim como José de Almada Negreiros com o Manifesto Anti-Dantas (1916), onde se apresenta como poeta futurista do Orpheu. Apesar de só terem saído dois números desta revista, ela conseguiu escandalizar a burguesia, ameaçada pelo poder monárquico que podia derrotar as instituições republicanas. Daí o aparecimento da expressão “escândalo do Orpheu”, pela não aceitação das provocações de alguns elementos da revista. Apesar do desaparecimento do idealismo da Águia, o Orpheu garante um maior fortalecimento da estética futurista e da agressividade que lhe é inerente. De facto, Portugal ao entrar na Primeira Guerra Mundial justifica as “Exortações da Guerra” de Almada e o ano de 1917 é de grande importância para o futurismo, pois é nesse ano que ocorre a “Sessão Futurista no Teatro Republicano”, se divulga o “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX” de Almada e se lança a revista Portugal Futurista, que continha textos de Apollinaire, Almada e Álvaro de Campos. Importa destacar as condições em que Fernando Pessoa reconhece o futurismo nas sua própria poesia. Em carta ao Diário de Notícias, esclarece: “O que quero acentuar, acentuar bem, acentuar muito bem, é que é preciso que cesse a trapalhada, que a ignorância dos nossos críticos está fazendo, com a palavra futurismo. Falar de futurismo, quer a propósito do primeiro número do Orpheu, quer a propósito do livro do Sr. Sá-Carneiro, é a coisa mais disparatada que se pode imaginar. (…) A minha Ode Triunfal, no primeiro número do Orpheu, é a única coisa que se aproxima do futurismo. Mas aproxima-se pelo assunto que me inspirou, não pela realização – e em arte a forma de realizar é que caracteriza e distingue as correntes e as escolas.” (Carta datada de 4-6-1915, in Obras em Prosa, vol.V, org. de João Gaspar Simões, Círculo de Leitores, Lisboa, 1987, pp.208-209). Álvaro de Campos foi directamente influenciado por outra das grandes figuras de inspiração dos poetas futuristas, o norte-americano Walt Whitman. No Manifesto Futurista está a recusa da arte dominante que é o simbolismo, e, neste sentido, temos o anti-aristotelismo de Álvaro de Campos e o Manifesto Anti-Dantas de Almada. A revista Portugal Futurista sai logo de circulação pelo seu aspecto provocatório. De facto, o futurismo surge como um escândalo (ao gosto dos futuristas) e se as notícias nos jornais não foram muitas, elas foram suficientes para a transmissão do pensamento futurista e sua consolidação como movimento de vanguarda. Politicamente, vivia-se uma situação de intolerância ideológica que não foi atenuada com a subida ao poder de Sidónio Pais. Com o desaparecimento prematuro de Amadeo e Santa-Rita Pintor, em 1918, e com a dispersão de outras personalidades do futurismo, este acabaria por se dissipar.

Um outro país a sofrer a influência futurista foi o Brasil, onde se ansiava romper com os movimentos estéticos anteriores e, por outro lado, inovar no plano nacional.

No extremo oriental da Europa, a Rússia é um dos polos privilegiados no desenvolvimento do futurismo que surgiu com o manifesto Uma Bofetada no Gosto Público, assinado por D. Bourlyok, A. Kroutchoykh e V. Mayakovsky. Os futuristas russos opunham-se às vanguardas simbolistas e eram considerados como representantes de um importante aspecto do vanguardismo russo. Surgem grupos como o cubo-futurismo e o ego-futurismo. É de notar o papel determinante que o futurismo teve na literatura russa, pois é bem capaz de ter influenciado indirectamente o surrealismo, o cubismo, o expressionismo e o dadaísmo. O futurismo influenciou as teorias dos formalistas russos no manuseamento livre das palavras, no verso livre, na nova sintaxe. De facto, o futurismo inovou na poesia e na prosa ao caracterizar a arte de forma geométrica e abstracta. Queriam criar uma nova linguagem poética, liberta de todo o tipo de restrições e que fosse distinta das formas tradicionais de arte. Este tipo de atitude consiste num desafio ao que os escritores futuristas como Kamensky, Mayakovsky e Khlebnykov designam por sociedade burguesa decadente, aliada a uma autocracia czarista. Os futuristas russos estiveram ligados ao fascismo. Pode-se dizer que proclamavam uma utopia socialista, um novo paraíso terrestre e daí a adesão à Revolução. Depois da Revolução de Outubro deu-se a ascensão do fascismo e muitos futuristas começaram a destacar-se no plano oficial da literatura. Apesar da arte se comprometer com a política, o movimento morre na década de vinte.

{bibliografia}

Cesare C. De Michelis: Il Futurismo Italiano in Russia 1909-1929 (1973); Enrico Crispolti: Il mito della macchina e altri temi del Futurismo (1969); Fernando Alvarenga: A Arte Visual Futurista em Pessoa (1984); Giovanni Lista: Futurisme, Manifestes, Proclamations, Documents (1973); João Alves das Neves: O Movimento Futurista em Portugal (1966); José Mendes Ferreira: Antologia do Futurismo Italiano (1979); Krystina Pomorska: “Formalismo e Futurismo” (1972); Malcom Bradbury e James McFarlane (eds.): Modernism: 1890-1930 (1983); Marjorie Perloff: The Futurist Movement. Avant-Garde, Avant Guerre and the Language of Rupture (1986); Maria Drudi Gambillo e Teresa Fiori: Archivi del Futurismo (1962); Id.: Le Futurism: 1909-1916 (1973); Nuno Júdice (org.): Poesia Futurista Portuguesa (1981); Nuno Júdice e Gustavo Nobre: Portugal Futurista (1990); Luciano de Maria,: Marinetti e il Futurismo (1973); Zbigniew Folejewski: Futurismo and its Place in the Developement of Modern Poetry: A Comparative Study and Anthology (1980).

http://users.iol.it/della.corte/futura/manifesto1909.htm

http://www.unknown.nu/futurism/manifesto.html

http://colophon.com/gallery/futurism/