Forma de
análise da história sem o recurso à interpretação objectiva dos
acontecimentos por ordem cronológica. Pelo contrário, a
genealogia é a análise das rupturas e descontinuidades, prática
que tem em Friedrich Nietzsche o seu primeiro utilizador, em
Genealogia da Moral (1887). C. Colwell
resumiu com
clareza o objecto da genealogia contemporânea, distinguindo-a da
história como ciência da reconstituição interpretativa da ordem
dos acontecimentos no tempo contínuo: “History, as opposed to
genealogy, is the ordering of events in a single series that
repeats those events within narrowly defined limits; it is for
all intents and purposes the repetition of the Same.
History is a narrative that reduces the problematic nature of
the events it addresses to problems that have solutions;
solutions that are also repetitions of the Same; solutions that
re-impose or attempt to re-impose the values imbedded in a long
history of errors. History is the reproduction of a social
memory that reproduces the tradition and imbeds it in our
psyches, our social relations and our institutions. History
actualizes, materializes that tradition. Genealogy is the
attempt to re-serialize events. Again, genealogy does not
invent, discover or emphasize new or different events nor does
it re-interpret events in order to discover hidden or sedimented
meanings that have been neglected by the tradition. It is the
attempt to counter-actualize the event, to return, in one form
or another, to the virtual structure of the event in order to
re-problematize the event. The goal is not to find a new
solution, to ‘fix’ history, to offer a better or truer history
or account of the past. The goal is to make the problem
problematic, to make it a real problem once again, a problem we
no longer know the answer to but for which we are compelled to
find solutions.” (Deleuze and Foucault: Series, Event,
Genealogy”,
http://www.press.jhu.edu/journals/theory_&_event/v001/1.2colwell.html
).
Uma
genealogia do conhecimento não parte do pressuposto de que as
suas respostas são verdades absolutas que se conquistam por
teorias e comprovação de teorias. De alguma forma, a genealogia
é a parte da história do conhecimento que está por determinar.
Por outras palavras, explora todas as formas de poder que
escaparam à institucionalização do conhecimento nas várias
estruturas culturais e sociais. Neste campo de investigação, o
historiador não se identifica com aquele tipo de respeito e
obediência profissional à verdade dos factos documentados que é
apanágio do trabalho tradicional da história, mas prefere
interferir especulativamente sobre as condições políticas em que
se chegou a essa verdade.
Colin Gordon (Ed.) Power/Knowledge: Selected Interviews & Other Writings 1972-1977 by Michel Foucault (1981); G. Minson: Genealogies of Morals: Nietzsche, Foucault, Donzelot and the Eccentricity of Ethics (1985); Hubert L. Dreyfus e Paul Rabinow: Michel Foucault: beyond Structualism and Hermeneutics (1982); Michel Foucault: Folie et déraison. Histoire de la folie à l’âge classique (1961) ; Naissance de la clinique. Une archéologie du régard médical (1963) ; Archéologie du savoir (1969); L’Ordre du discours (1971) ; Surveiller et punir. Naissance de la prison (1975) ; Revista de Comunicação e Linguagens, nº19 (“Michel Foucault: Uma Analítica da Experiência”) (1993).
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