Canção de tema religioso, militar, ou histórico, destinada a fazer o louvor de uma figura importante na história das religiões, de uma divindade, de um herói nacional, de um povo sublime, de uma nação valorosa, de um gesto único de nobreza, ou de qualquer acontecimento que tenha marcado uma civilização ou uma comunidade. É um tipo de composição poética muitas vezes acompanhada de música criada como mesmo espírito que motivou o texto poético. Trata-se de um género praticado e testemunhado desde os primórdios da literatura grega arcaica. Homero dedicou hinos a Deméter; em Delfos, fizeram-se inúmeros hinos a Apolo; Píndaro, Alceu, Simónides e Timóteo, por exemplo, celebrizaram-se na literatura grega pelos seus hinos, quase sempre dirigidos a divindades ou a homens notáveis na guerra ou no desporto. A Idade Média latina cultivou largamente o hino de carácter litúrgico.
Na literatura bíblica, os hinos repetem-se, sobretudo nos Salmos, enquanto formas de louvor sentido a Deus, que recolhem várias fórmulas de saudação que entraram facilmente nas práticas da devoção, por serem formas literárias de fácil memorização, muito musicais, próximas por vezes de autênticas ladainhas. O hino hebraico não é uma forma exclusiva, pois também existem hinos nas literaturas mesopotâmicas e egípcias, por exemplo. O Novo Testamento contém também um dos mais importantes hinos escritos de sempre, o magnificat, nome por que é conhecido o cântico de Maria (Lucas, 1, 46-55), que começa desta forma sublimada: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador; porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome.”
Pela sua temática e pelo tom panegírico e elevado que normalmente assume, o hino aproxima-se facilmente da ode. Apesar de ser um mais antigos géneros literários, ainda hoje muitos poetas compõem hinos a partir das mais variadas motivações e em contextos não necessariamente religiosos, podendo conter significados essenciais de interpretação muito variada, como nesta curta composição de Fiama Hasse Pais Brandão, como título “Hino”: “Compõe-se de voz / e de sombra. É ele próprio / a junção da vida à / linguagem. O que / me é dado às vezes / pela etimologia. Amo / o versículo nas palavras / que o evocam e o ocultam. / Este hino é cantado numa paisagem diurna.” (in Entre os Âmagos (1983-87), in Obra Breve, Teorema, Lisboa, 1991, p.460). Vemos que nesta composição faltam elementos clássicos como as invocações e as apóstrofes directas, por exemplo, mas o tom elevado mantém-se e uma certa atitude de humildade terrena, que é uma espécie de marca distintiva do sujeito cantor, emerge nitidamente.
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