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Palavra-tema num texto literário, à volta da qual se desenvolve um conjunto de enunciados, ideias ou histórias. O hipograma pode estar dissimulado no texto ou expresso de forma clara como no caso das obras literárias construídas em torno de um herói, cujo nome funciona como hipograma da própria história narrada. Em francês, diz-se mot-thème e em inglês existem variantes como switch word, key word, seed word, ou nodal point. Dos inúmeros exemplos que podemos lembrar, vejam-se os hipogramas nas obras de John Keats (o peito maternal), de Charlotte Brontë (a palavra-tema mãe, a partir do francês mére), Sylvia Plath (o nome de sua mãe Aurelia, que surge em formas homónimas), Teixeira de Pascoaes (Saudade), Fernando Pessoa e heterónimos (sensação, imaginação, tédio, cansaço, mar, volante, máquina, rebanho, castelo, Deus, etc.).

O hipograma foi estudado de forma sistemática em primeito lugar por Ferdinand de Sausssure, nas suas notas experimentais que durante muitos anos ficaram inéditas. Coube a Jean Starobinski publicar esses cadernos de notas de Saussure, com o título Les sous les mots (1971). Saussure descobriu que os poemas latinos escondiam certas sonoridades que, apesar de estarem dissimuladas, ajudavam a compreender verdadeiramente o texto. Tais sonoridades eram construídas como dissimulações, que possuíam uma ordem própria de tal forma que só a sua descodificação nos podia dar o verdadeiro sentido do poema. Para Starobinski, a essência da criação poética deve ser imputada não ao próprio criador mas à habilidade técnica para fazer com que os hipogramas funcionem como elementos decisivos para o sentido completo do poema. Contudo, a perspectiva de Saussure e de Starobinski apenas considera o hipograma em termos que não o chegam a distinguir do conceito de anagrama, pois apenas são considerados os elementos fónicos que asseguram a estrutura de superfície do texto. O anagrama saussuriano está disseminado no texto, apresentando um desenho paragramático (não linear). Para Riffaterre, o hipograma deve ser entendido não como um paragrama mas como uma força estrutural única, que envolve palavras inteiras (um cliché, uma citação, uma associação de ideias, etc.) disseminadas no texto, capaz de garantir a supremacia da forma. Esta visão estruturalista da leitura do texto poético foi severamente criticada por Paul de Man (1989).

{bibliografia}

Jean Starobinski: Les mots sous les mots. Les anagrammes de Ferdinand de Saussure (1971); Michael Riffaterre : Semiotics of Poetry (1978) ; Paul de Man: “Hipograma e inscrição”, Resistência à Teoria (Lisboa, 1989).

http://www.ucm.es/info/especulo/numero5/starobin.htm