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Descrição entusiástica, dinâmica e animada de uma pessoa, coisa ou acção, em regra ausente no momento da descrição, mas cuja presença é assumida de forma fantástica. Quintiliano prefere designar esta figura como ilustração vívida (Institutio Oratoria, IX, ii, 40-44), atribuindo a Celso a designação grega, que traduziria qualquer representação enérgica de factos, de tal forma que se criaria uma ilusão óptica de realidade. O artifício é bastante usado sobretudo em memórias e celebrações de entes queridos que partiram, de lugares que se visitaram outrora, de coisas que trazemos à realidade ilusória do presente mas que pertencem à realidade passada. Veja-se o exemplo desta recordação do rio Tejo e do poeta heteronímico de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, descritos por Adolfo Casais Monteiro: “E aqui estou eu, / ausente diante desta mesa — / e ali fora o Tejo. / Entrei sem lhe dar um só olhar. / Passei, e não me lembrei de voltar a cabeça, / e saudá-lo deste canto da praça: / "Olá, Tejo! Aqui estou eu outra vez!" / Não, não olhei. / Só depois que a sombra de Álvaro de Campos se sentou a meu lado / me lembrei que estavas aí, Tejo. /…/ Não veio nenhum criado dizer-me se era esta a mesa em que Fernando Pessoa se sentava, /contigo e os outros invisíveis à sua volta, / inventando vidas que não queria ter. /… / Tejo que não és da minha infância, / mas que estás dentro de mim como uma presença indispensável, / majestade sem par nos monumentos dos homens, / imagem muito minha do eterno, / porque és real e tens forma, vida, ímpeto, /porque tens vida, sobretudo, /meu Tejo sem corvetas nem memórias do passado… / Eu que me esqueci de te olhar! /…/” (“Ode ao Tejo é à memória de Álvaro de Campos”, in Poesias Completas, IN-CM, Lisboa, p. 175).