Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Substantivo feminino grego, de raiz provinda do indo-europeu *ut + qweri, (peso excessivo, força exagerada) passa a significar o que ultrapassa a medida humana (o métron). É, portanto, o excesso, o descomedimento, a desmesura. Em termos de religião grega, a hybris representa uma violência, pois, ao ultrapassar o métron, o homem estaria cometendo a insolência, um ultraje, na pretensão de competir com a divindade. Daí o sentido metafórico de orgulho, arrebatamento, impetuosidade. Seu antónimo, nesse caso, seria sophrosyne (…), a disposição sadia de espírito, a moderação, a prudência.

Por representar uma abstracção, a hybris não possui um mito próprio. Entretanto passa por ser a mãe ou a filha de Kóros (…), a saciedade, pelo jogo dos símbolos.

Observe-se que o adjectivo "híbrido" vem do grego hybris, pelo latim hybrida, por via erudita, pois os gregos consideravam a miscigenação e o hibridismo consequente, uma violação das leis naturais.

O conceito de hybris tem sido aplicado principalmente em relação ao protagonista da tragédia que desafia as leis morais vigentes na polis e as proibições dos deuses. A transgressão do protagonista ou hamartia (…) leva à sua queda, o que não significa necessariamente um desfecho trágico. A hybris e o desfecho trágico ocorrem, por exemplo, em Édipo Rei e Antígona, de Sófocles (s. V a. C). Em Medeia de Eurípedes (s. V a. C.), a hybris se apresenta com uma força trágica incomum, pois a protagonista terna e monstruosa, Medeia, pela intensidade da sua paixão por Jasão, é capaz de assassinar os próprios filhos, para punir o amante (pela sua infidelidade) de uma forma radical. Entretanto, ela é resgatada, no final, pelo carro de Hélios, seu pai.

Resumindo: a tragédia realiza-se a partir da ultrapassagem do métron (…) pelo simples mortal, a partir, portanto, de uma transgressão feita, ou seja, de uma violência contra a ordem social e, necessariamente, contra os deuses imortais: a hybris. Aquele que encarna o anthropos (…), o simples mortal é o aner, (…) o ator, o outro, ou seja o dramatis personae. Isto provoca a némesis, (…), o ciúme divino. Contra o herói é lançada a Até, a cegueira da razão. Tudo que o hypocrités (o ator possuído pelo êxtase) fizer, reverterá contra si mesmo (Édipo). Em seguida ele estará subjugado pela moira, pelo destino cego, sem apelo.

Muito antes da tragédia, entretanto, desde Homero (s. VIII a. C.) com a Ilíada e a Odisséia, os poetas não pouparam esforços em admoestações acerca dos perigos da hybris. Também o poeta tebano Píndaro (s. VI-V a. C.) lembra a efemeridade do homo-humus e pede que se evite a hybris pois “O homem é o sonho de uma sombra” Píticas, 8, 95-97.

{bibliografia}

A. Bailly. Dictionnaire grec-français. Paris, Hachette, 1950, p. 1981-1982. Albin Lesky. La tragedia griega. Barcelona, labor, 1966.John Higginbotham. Greek & Latin Litterature. London, Methuen& Co Ltd, 1969, p. 278-279. Chris Baldick. The Concise Oxford Dictionary of Literary Terms. New York, Oxford Un. Press, 1991, p.101. J. A. Cuddon. The Penguin Dictionary of Literary Terms. London, Penguin Books, 1991, p. 431. Junito Brandão. Dionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis, Vozes, 1991, p. 558-559. __. O teatro grego: tragédia e comédia. Petrópolis, Vozes, 1996. Pierre Grimal. La mythologie grecque. Paris, Presses Universitaires, 1953. Robert Graves. The Greek Mythes. Great Britain, Penguin Books, 1984. Werner Jaeger. Paideia: los ideales de la cultura griega. /Paideia, Die Formung des griechischen Menschen. Trad. do alemão por Joaquín Xirau. México, Fondo de Cultura Económico, 1957