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Expressão latina retirada da Arte Poética de Horácio (Semper ad eventum festinat et in medias res non secus ac notas auditorem rapit), que significa literalmente “no meio dos acontecimentos”. Sendo uma característica própria da epopeia, Horácio reconhece na Odisseia e na Ilíada a interrupção dos acontecimentos. Ou seja, a narração não é relatada no início temporal da acção, mas a partir de um ponto médio do seu desenvolvimento.

Todos os acontecimentos que são omitidos no início da acção (ab ovo) são retomados mais tarde através de analepses. É esta ideia de flash-back que foi recuperada e explorada por vários cineastas, como por exemplo o filme Lola Rennt realizado em 1998. Apesar da ordem dos acontecimentos não ser linear, a História não perde verosimilhança nem credibilidade, uma vez que a epopeia descreve com maior ou menor veracidade algum acontecimento histórico. Com este processo, a acção torna-se mais dinâmica e eventualmente mais atraente para o público. Luís de Camões segue o exemplo dos clássicos em Os Lusíadas: a narração da viagem de Vasco da Gama começa “Já no largo Oceano…” (I, 19), acabando por recuperar o que ficou por narrar no Canto IV.

Kafka, ao escrever Die Verwandlung [A Metamorfose], segue este princípio latino, uma vez que abre a narrativa no meio da acção, podendo surpreender o público-leitor com um acontecimento inesperado: “Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheueren Ungeziefer verwandelt” [Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa viu-se transformado num gigantesco insecto.]

[Para a justificação da grafia correcta de in medias res, consulte o Ciberdúvidas.]

{bibliografia}

Horácio, Arte Poética (Lisboa, 1984); FranzKafka. Die Verwandlung (Spiegel On-Line, 2001); Franz Kafka: A Metamorfose (Lisboa, 1999).