Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Literalmente, este termo diz respeito ao diálogo entre discursos ou à forma como um determinado tipo discursivo se constitui em relação a outros tipos já conhecidos. O conceito vive na vizinhança com outra formulação mais utilizada na crítica literária: a intertextualidade. Em Discourse and Social Change, Norman Fairclough tentou uma clarificação entre os dois conceitos distinguindo uma “intertextualidade manifesta” e uma “intertextualidade constitutiva” ou “interdiscursividade”, que se destaca da primeira porque se integra nas questões dos géneros e dos estilos. O sentido que apreendemos na interdiscursividade resulta de um diálogo vivo entre os discursos combinados, dinâmica que Bakhtin descreveu nos estudos sobre o romance de Dostoiesvky. Aquilo a que chamou “fios dialógicos vivos", decisivos na constituição de qualquer discurso, é a base de construção da interdiscursividade. Trata-se do jogo dialógico entre os textos instalados no discurso. Enquanto a intertextualidade remete para o processo de construção do sentido através, por exemplo, da citação, da alusão ou da estilização com intenções parodísticas, a interdiscursividade diz apenas respeito à forma como se constroem os discursos entre si. A dinâmica da interdiscursividade é sempre interna, não está fora do texto, e depende muito de mecanismos de redundância textual, como num discurso que repete temas ou ideias de um outro discurso preexistente, quer na forma de citação quer na forma de alusão. Esta diferenciação obriga a fazer depender a descodificação da interdiscursividade unicamente da capacidade de leitura do leitor, isto é, está totalmente nas mãos da receptividade do leitor, que se exige ser um indivíduo devidamente informado sobre a matéria dos discursos para poder compreender a sua dinâmica dialógica. Por esta razão, a interdiscursividade obriga a um exercício hermenêutico mais complexo do que aquele que se obtém na identificação dos intertextos, mais visíveis e menos sujeitos à soberania do leitor para serem descobertos. Se a interdiscursividade não implica a intertextualidade, o contrário é sempre verdadeiro, porque um texto é sempre um discurso vivo que preexiste à redacção do próprio texto e que só se torna dinâmico com o diálogo com outros discursos.

{bibliografia}

Beth Brait (org.): Bakhtin, Dialogismo e Construção do Sentido (1997); Jonathan Culler: "Presupposition and Intertextuality", in E. Taylor &, Ch. E. Winquist (eds.): Postmodernism, vol. 2, (1998); Helena Brandão: Introdução à Análise do Discurso (1993); Mikhail Bakhtin: Problemas da Poética de Dostoiévski (Rio de Janeiro, 1972); Michel Pêcheux: Semântica e Discurso. Uma Crítica à Afirmação do Óbvio (1988.); Norman Fairclough: Discourse and Social Change (1992).