Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Técnica narrativa que consiste em apresentar a narração/descrição num ritmo semelhante ao do tempo real, demorado ou lento nas cenas e episódios; vivo e rápido nos acontecimentos instantâneos, sendo constituída pelos procedimentos que incutem ao discurso narrativo uma duração idêntica à da história relatada. Trata-se de uma tentativa de sincronização entre a duração do discurso e a duração da história.

A análise de fenómenos de isocronia narrativa corresponde à da cena que, pela limitada ou nula intervenção do narrador e pela directa reprodução das falas das personagens, é o que mais se aproxima da fidelidade durativa perseguida pela narrativa isócrona.

Confrontar a duração de um discurso com a da história que este conta é uma operação difícil, pela simples razão de que não se pode medir a duração de um discurso. O que é referido assim só pode ser o tempo que é necessário para o ler, mas é evidente que o tempo de leitura varia de acordo com várias circunstâncias, e que, contrariamente ao que acontece com o cinema, nada aqui permite fixar uma velocidade à execução.

O ponto de referência, ou grau zero, que em matéria de ordem seria a coincidência entre sucessão diegética e sucessão narrativa, e que será aqui a isocronia rigorosa entre discurso e história, mesmo se for verdade , como refere Jean Ricardou, que uma cena dialogada (sem a intervenção do narrador e sem qualquer elipse), nos dá uma espécie de igualdade entre o segmento narrativo e o segmento fictício. Sublinhe-se “espécie”, para mostrar o carácter não rigoroso, a nível temporal, desta igualdade: o que se pode afirmar sobre tal segmento é que este transmite tudo o que foi dito, sem nada adicionar; mas não refere a velocidade à qual as palavras foram pronunciadas, nem os eventuais tempos mortos da conversação. Não pode portanto ter um papel de indicador temporal. Existe na cena dialogada apenas uma igualdade convencional entre tempo do discurso e tempo da história.

A isocronia de um discurso pode também definir-se através da comparação entre a sua duração e a da história que se conta, mas de modo algum de maneira absoluta e independente, como duração de velocidade. Entende-se por velocidade a relação entre uma dimensão temporal e uma dimensão espacial: a velocidade do discurso definir-se-á através da relação entre a duração da história, medida em segundos, minutos, horas, dias, meses e anos, e a extensão do texto, medida em linhas e em páginas. O discurso isócrono será um discurso onde a relação duração da história/extensão do discurso permanece constante. É inútil precisar que tal discurso só pode existir a título de experiência de laboratório: ao nível da elaboração estética não é admissível a existência de um discurso que não admita qualquer variação de velocidade, um discurso não pode existir sem anisocronias, ou se se preferir, sem efeitos de ritmo.

É possível ligar a isocronia à técnica do showing, a qual inspira a adopção de um ponto de vista inserido na acção, acompanhando o seu desenvolvimento de forma isócrona, já que a personagem que participa nesse desenvolvimento acaba por se assumir como testemunha dos acontecimentos que aparecem “mostrados”. Por contraste existe a técnica do telling em que o narrador, distanciando-se da história, se responsabiliza pela sua representação, reduzindo ao mínimo as intervenções das personagens e alheando-se de quaisquer preocupações de fidelidade temporal.

{bibliografia}

Gérard Genette: Figures III (1972).