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Considerando-se iteratividade a reprodução, na cadeia sintagmática, de grandezas idênticas ou comparáveis, situadas num mesmo nível de análise, entende-se por isotopia a iteratividade de classemas responsáveis pela homogeneidade do discurso. O termo foi criado por A. J. Greimas e apareceu pela primeira vez em Sémantique structurale (1966). Na cola do autor, valemo-nos, por questão de economia, de uma anedota cômica para ilustrar a ocorrência de isotopias:

O senhor Silva atende ao telefone:

– Loja de calçados “Pé Feliz”!

– Desculpe-me, senhor, número errado – ouve-se do outro lado da linha.

– Não seja por isto: traga os sapatos que nós trocamos.

Após uma narração introdutória, trava-se breve diálogo. O sintagma “número errado” desencadeia a isotopia, por uma nova distribuição classemática, surpreendendo o leitor.

Nessa etapa inicial dos estudos sobre isotopia, distinguem-se dois tipos, segundo o percurso produtor do discurso e a distribuição de seus componentes: (i) isotopia gramatical, com a recorrência de categorias e (ii) isotopia semântica, que torna possível a leitura uniforme do discurso. Segundo suas dimensões, as isotopias serão parciais (são as “isossemias”, de B. Pottier), suscetíveis de supressão ao condensar-se um texto e globais, que permanecem após qualquer supressão efetuada.

Numa segunda etapa, amplia-se o conceito de isotopia, não mais contido apenas à iteratividade de classemas, passando também a abranger a das figuras nucleares, ou seja, das categorias sêmicas. Pode-se, então, distinguir entre (a) isotopias figurativas, que sustentam as figurações discursivas e (b) isotopias temáticas, que se situam em nível mais profundo do que o discursivo. Ainda em virtude de tal ampliação de conceito, compreende-se por pluriisotopia a co-ocorrência de várias isotopias figurativas correspondentes à mesma quantidade de isotopias temáticas. Neste caso, um texto admitiria várias leituras igualmente válidas. Já biisotopia designa a que resulta de uma comparação (ou símile): “João é uma fera”, desde que o discurso se desenrole sobre “João” e sobre “fera”.

F. Rastier, a par das isotopias que denomina de horizontais (as de percurso sintagmático, que permitem uma determinada leitura do texto em sentido linear, como, em seu próprio exemplo, uma leitura política do evangelho de S. Marcos) e de verticais (ou metafóricas), estende o alcance da isotopia ao plano da expressão, graças à projeção de feixes fêmicos isotópicos, em que se reconheceriam simetrias e alternâncias, consonâncias e dissonâncias, além de transformações significativas de conjuntos sonoros.

{bibliografia}

A. J. Greimas: Semântica Estrutural: Pesquisa de Método (2ª ed. , Säo Paulo, 1976); Id.: Du sens: Essais de sémiotiques (1970); F. Rastier: “Systématique des isotopies”, in A. J. Greimas (ed.): Essais de sémiotique poétique (1972); Groupe m: “Isotopie et allatopie: le fonctionnement rhétorique du texte”, Versus, 14 (1976); Maria Vitalina Leal de Matos: O Canto na Pesia Épica e Lírica de Camões: Estudo da Isotopia Enunciativa (1981).