Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Expressão francesa (literalmente, “jogo de espírito”, em inglês
também chamado “witty trifle”, sobretudo em contextos musicais)
que pode ser entendida como artifício retórico que joga com
palavras para obter um sentido humorístico, crítico ou didáctico.
Também utilizado como pequena peça musical alegre e jocosa, o
jeu d’esprit
é muitas vezes utilizado em processos de
alfabetização. Por exemplo,

G
a
traduzir-se-á por “
J’ai grand
appétit” (G grand, a petit). De uma forma mais
lata, podemos classificar certos jogos de adivinhas ou de
enigmas como jogos espirituosos, pois fazem depender a solução
da compreensão e interpretação de um jogo de palavras. Em

limericks, ou em epigramas de Oscar Wilde ou nos principais
romances de Eça de Queirós podemos encontrar exemplos
significativos. Eça usa várias vezes jogos deste tipo, quase
sempre marcados por uma profunda ironia, como no seguinte
exemplo de Os Maias:

 

– A coisa é esta… O marido daqui a dias vai para o Brasil, tem
lá negócios. E ela fica! Fica com as criadas e com a pequena, à
espera, dois ou três meses. Diz que já andaram até a ver casas
mobiladas, que ela não quer estar no hotel… E eu, íntimo, a
única pessoa que ela conhece, metido de dentro… Hem, percebes
agora?

 – Perfeitamente – disse Carlos, arrojando para longe o charuto,
com um gesto nervoso. – E decerto a pobre criatura já está
fascinada! Já lhe deste, como costumas, um beijo ardente entre
duas portas! Já a desgraçada se sortiu da caixa de fósforos,
para mais tarde quando a abandonares!

    Dâmaso enfiava.

–         

Não venhas já tu com o espírito e com a chufazinha… Não lhe
dei beijos que ainda não houve ocasião… Mas, o que te posso
dizer, é que tenho mulher!

(Vida e
Obra de Eça de Queirós
, edição em CD-Rom, org. por Carlos
Reis, Porto Editora, pp.662-663).