Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Poema lírico ou narrativo de curta extensão inspirado em temas do ciclo bretão-arturiano e destinado a ser cantado com acompanhamento musical. A partir do séc. XII, os lais narrativos deixam de ser musicados. Segundo Hoepffner, na corte do Rei Artur já existiriam lais, ou seja, composições artísticas musicais, na sua maioria apenas instrumentais que, todavia, podiam acompanhar relatos de aventuras extraordinárias a fim de serem perpetuadas como recordação, ficando na memória por serem eventos notáveis.

Mais tarde, no séc. XII, um lai pode designar uma composição musical que acompanha um texto de carácter lírico em verso. Diferencia-se da canção, apesar dos temas abordados serem frequentemente de carácter amoroso, porque o lai apresenta estrofes numerosas, com extensão e métrica variável, fazendo com que, consequentemente, a melodia também varie de estrofe para estrofe. Os exemplares existentes são, na sua maioria, franceses, de autores conhecidos, como Thibaut de Champagne e Gautier de Coincy, ou de anónimos. Este tipo de lai, segundo Aires Nascimento, distingue-se de um outro, também de carácter lírico, mas inspirado em temas lendários arturianos, que sendo também um poema musicado, apresenta, porém, estrofes com o mesmo número de versos e sílabas métricas, caracterizando-se por surgir geralmente no meio da acção narrativa de textos em prosa e por algum arcaísmo verbal. São todos de origem anónima. No entanto, no séc. XII, o termo lai não se restringe apenas a uma composição estrófica musicada. Abrange também o lai narrativo que consiste num relato sem acompanhamento musical, composto por versos octossilábicos que não rimam entre si e que, por vezes, não apresentam qualquer corte estrófico. Distingue-se do romance cortês pela sua brevidade, sendo constituído por uma média de quatrocentos ou seiscentos versos, raramente ultrapassando o milhar e encontrando-se geralmente reduzido a um único episódio sem acções ou personagens secundárias. O lai narrativo conta uma aventura singular, de natureza feérica onde o humano se mistura com o sobrenatural, não se devendo confundir com a fábula que se desenvolve num meio popular, enquanto o lai decorre num ambiente cortês, reflectindo as opiniões e sentimentos da sociedade cortesã. Sendo inicialmente inspirado unicamente em temas da matéria bretã, acaba por alargar a sua designação a qualquer obra narrativa breve de tema amoroso ou aventureiro. Os Lais de Marie de France são o exemplo mais conhecido deste lai narrativo. São doze poemas dedicados pela autora, uma aristocrata que viveu na segunda metade do séc. XII, ao rei Henrique II de Inglaterra e que têm por temática fundamental o amor, sempre com inspiração nas personagens lendárias arturianas.

Já no séc. XIX , o termo começa a designar frequentemente um pequeno poema narrativo de carácter histórico e aventuroso, como por exemplo, as obras de Walter Scott, The Lay of the Last Minstrel e Macaulay, Lays of Ancient Rome .

{bibliografia}

Helena Miranda Monteiro do AMARAL: «O universo imaginário dos «Lais de Marie de France»Dissertação de Mestrado em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1988; Ernest HOEPFFNER: Les lais de Marie de France, Boivin & C., 1935;, Aires A. NASCIMENTO: “Lai” in Dicionário de literatura medieval galega e portuguesa, Organização de Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani, Caminho, 1993; Carolina Michaelis de VASCONCELOS: edição crítica e commentada do Cancioneiro da Ajuda, II, Halle, 1904; Paul ZUMTHOR: Histoire littéraire de la France Médiévale, Slatkine, 1981.