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Termo italiano que designa o livro, em tamanho de bolso, manuscrito ou impresso contendo o texto cantado e/ou falado de uma ópera, opereta, comédia musical, oratória, cantata ou outra actuação musical. Libretto refere-se também ao argumento em que se descreve a acção dos vários actos da ópera. A finalidade do libretto consistia em disponibilizar aos espectadores da ópera o texto e a listagem das personagens sendo, por isso, uma obra de consumo bastante imediato, impressa em papel barato, muitas vezes cheia de gralhas tipográficas. O espectador comprava o libretto, dentro ou fora do teatro, e acompanhava a actuação lendo o libretto à luz das velas existentes no teatro para o efeito.

No final do séc. XIX, vários factores contribuíram para que o libretto deixasse de ser uma obra efémera: a chegada da electricidade, a evolução do programa da ópera e um repertório mais consistente. O libretto deixou de ser utilizado apenas na ópera durante o espectáculo para ser lido também em casa antes ou depois da actuação.

Mais tarde, o libretto passa a ser uma importante fonte de informação sobre os vários aspectos ligados à apresentação de uma ópera, e constitui, por vezes, a sua única prova de existência. Através do libretto é possível conhecer as variações textuais de uma mesma ópera nas suas várias produções ao longo dos tempos, os repertórios, a história dos teatros, os hábitos locais, e a censura.

O primeiro libretto data de 1598, da autoria do poeta florentino Ottavio Rinucci : La Favola di Dafne (música de Jacopo Peri). Neste libretto, indicam-se o nome do poeta, o “empresário” da ópera, o nome da pessoa a quem se dedica a ópera, o local e a data da publicação, o editor, a lista das personagens (sem o nome dos cantores), o texto e uns versos de dedicatória no final. As indicações presentes em librettos posteriores são bastante mais completas e no séc. XVIII, os librettos traziam informação sobre máquinas e efeitos especiais, árias alternativas, cortes efectuados na actuação, director musical, figurinista, produtor e outras informações passíveis de interessarem o público.

Como género literário, o libretto tem sido visto pelos críticos como tendo pouca qualidade literária. Mas o libretto é parte integrante de um conjunto e deve ser entendido como a fusão entre o texto e a música. O librettista escreve pensando na música e o libretto é primeiramente dirigido ao compositor que o deverá traduzir por música. A qualidade literária dos librettos ao longo dos tempos passa por diversas fases. No início, o librettista era um poeta que comprimia uma obra conhecida, geralmente da antiguidade greco-latina (Euridice, 1600, e Arianna, 1608, de Rinuccini). A tragédia e a mitologia predominam na intriga de óperas como La favola d’Orfeo, de Claudio Monteverdi, e a fama dos libretistas torna-se evidente. No final do séc. XVIII, assiste-se a uma degradação do libretto da ópera “séria” e ao crescimento da ópera “cómica”, mais popular. No séc. XX, o libretto relaciona-se com outras dimensões artísticas para além da música.

{bibliografia}

The New Grove Dictionary of Opera. ed. by Stanley Sadie, vol.