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Do grego
lipógramma, -atos
, “ falta de uma letra “, configura um jogo
de palavras ou de símbolos que se utiliza para puro divertimento
poético ou para marcar um determinado estilo. Se se eliminar uma
palavra inteira num texto, utilizamos o lipónimo; se
eliminarmos um determinado som, falamos de um lipófono.
Muitos lipogramas são, na verdade, lipófonos. A técnica oposta
chama-se pangrama, ou seja, quando se utilizam todas as
letras do alfabeto num dado texto. O exemplo mais conhecido de
pangrama talvez seja o padrão de representação das fontes de um
programa de processamento digital de texto, reconhecido
internacionalmente na frase:

The quick brown fox jumps over de lazy dog,

que serve de teste de visualização de uma fonte gráfica

Um dos primeiros mestres do género foi o poeta grego
Trifiodoro
(século V a. C.), que escreveu uma Odisseia lipogramática,
“Destruição de Tróia”, eliminando em cada um dos vinte e quatro
cantos uma letra do alfabeto. Contudo, a designação lipograma
é moderna, só utilizada a partir do século XVIII. O lipograma
pertence ao conjunto dos poemas cuja estrutura é
fundamentalmente visual e que exige uma percepção especial.
Neste universo se incluem também poemas alfabéticos,
tautogramas, acrósticos e pentacrósticos, labirintos, anagramas,
etc. O poeta alemão Walter Gottlob Burmann, no século XVIII,
compôs cerca de 130 poemas sem a letra “r”, da qual tinha
particular fobia, quer na linguagem escrita quer na linguagem
oral.

Joseph Addison (1672-1719) in The Spectator, numa famosa
colecção de ensaios publicados em 1711, escreve a 11 de Maio: 
"As true Wit generally consists in this Resemblance and
Congruity of Ideas, false Wit chiefly consists in the
Resemblance and Congruity sometimes of single Letters, as in
Anagrams, Chronograms, Lipograms, and Acrosticks; Sometimes of
Words, as in Punns and Quibbles; and sometimes of whole
Sentences or Poems, cast into the Figures of Eggs, Axes or
Altars
…".

Para Addison, os lipogramas são exemplos de má literatura, meros
jogos de palavras que não implicam qualquer erudição.
A técnica do lipograma exige, no entanto, uma habilidade
linguística apurada se for ensaiada como uma projecto literário,
como o fez o alemão Franz Rittler, no romance Die Zwillinge
(3ª ed., 1820), onde conseguiu a proeza de não escrever a letra
“r” , a mais comum na língua alemã.

           

Já no século XX, Ernest
Vincent Wright publicou em 1939 o romance Gadsby (50.000
word novel without the letter E), sem escrever uma única vez a
letra “e”. George Perec (1936-1982), apresentado quase sempre
como o grande especialista do lipograma, voltou a repetir a
façanha no romance La disparition (1969), também escrito
sem utilizar a letra “e”, a mais utilizada no léxico francês,
algo que o seu público leitor não deu conta de imediato. Na
tradução para inglês, A Void (1995), o Time Magazine imitou a
técnica na recensão que fez do livro, também sem o recurso à
letra “e”: “AVOID, ORIGINALLY LA DISPARITION (1969), is a
lipogram, an old trick dating as far back as 500 B.C. in which
authors voluntarily submit to awful handicaps, arbitrarily
abjuring crucial signs or symbols and making writing, always a
hard task, a virtual impossibility.

In A Void, this onus is particularly harsh. All
consonants, from stalwart b to languishing z, can occur in
normal fashion; but only a, i, o and u may fill out what is
ordinarily a quorum of 26. "Huh?" you may gasp, "no …?" Shhhh!
Do not think or, God forbid, say it, at any cost. To do so in
this book is always risky and usually fatal.

(…)”
(Paul Gray, Time Magazine, 6-2-1995). Em um outro texto
experimental, "Les revenentes"(1972), utiliza apenas essa mesma
vogal que havia omitido. Perec iniciou um movimento de vanguarda
a que deu o nome de "literatura potencial" ou “Ou.Li.Po”.
Este grupo dedicava-se a jogos verbais e literários.

            O exercício do lipograma pode ser feito por qualquer
indivíduo letrado e existem experiências curiosas a circular na
Internet, convidando o leitor a reescrever os seus textos
favoritos de forma lipogramática, como podemos testemunhar no
seguinte exemplo de um conhecido poema de Yeats, Sailing to
Byzantium, traduzido para Nglish (English, “Inglês”, sem
a letra “e”):

 

Sailing to Byzantium (original)

 

Sailing to Byzantium (Nglish)

I

That is no country for old men. The young
In one another’s arms, birds in the trees

—Those dying generations—at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

 

 

I

That is no country for old folk. But young
Go arm in arm, and birds on high,
—That dying dynasty—still hard at song,

And salmon-falls, and tuna schooling by,
Fish, fauna, fowl, applaud all warm day long
What was an ovum, now was born, and … I
Caught in that sultry music fail to find
Signals of an always youthful mind.

Put into Nglish by John Collins and G.G.Strand (1999)

Fonte:

http://www.columbia.edu/~jdc9/byzantium.html

{bibliografia}

Georges Perec: “History of the Lipogram”, in Oulipo: A Primer of Potential Literature, ed. por Warren F. Motte Jr. (1986).

http://wordways.com/lipogram.htm

http://phrontistery.50megs.com/liplinks.html