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Dicotomia da textualidade proposta por Roland Barthes em S/Z (1970). Para se poder estabelecer o valor de um texto, Barthes avança com a ideia de que ele pode ser scriptible (“escrevível, que se pode escrever, mas ainda não está escrito”) ou lisible (“legível, que pode ser lido, mas não escrito”). O escrevível obriga o leitor a cumprir um outro papel para além do inevitável consumidor de textos: deve tornar-se, no exercício da sua skepsis literária, um produtor. Podemos aproximar este dualismo dos dois modos de interpretação propostos por Derrida em “La structure, le sign et le jeu”: o escrevível, que exige, portanto, que o leitor se torne um produtor, entra no mesmo paralelo do jogo aberto de Derrida que visa alcançar um patamar além da expressão comum; e o legível, identificado como “texto clássico”, que possui apenas uma pluralidade limitada que não permite ir mais além de uma interpretação em moldes tradicionais. Em S/Z, Barthes recusa ainda a ideia de um modelo transcendente ao texto, para postular que todo o texto é de alguma forma o seu próprio modelo e, portanto, deve ser tratado na sua différance, no sentido derridiano. Não faz mais sentido uma teoria que seja um hipotético modelo de descrição, não faz mais sentido pressupor que a teoria seja dissociável da prática, que a crítica seja uma mera descrição, um comentário ou uma representação. Preferencialmente, quanto mais se escandir a superfície de um texto melhor se poderá observá-lo em termos de textualidade, isto é, em termos de produção de uma multiplicidade de efeitos significantes.

{bibliografia}

J.Courtés: Du lisible au visible (1995); Jean Paris: Lisible/visible: six essais de critique générative (1978).