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O termo foi criado por Paul Sebillot (1846-1918), no seu Littérature Orale de la Haute Bretagne (1881) e reúne miscelânea de narrativas e de manifestações culturais de fundo literário, transmitidas oralmente, i. é, por processos não-gráficos. Essa miscelânea é constituída de contos, lendas, mitos, adivinhações, provérbios, parlendas, cantos, orações, frases-feitas tornadas populares, estórias … (Câmara Cascudo).

Foi no séc. XVIII , na Alemanha, que teve início a preocupação com o conhecimento científico das narrativas populares (maravilhosas, jocosas, míticas, lendárias, etc., etc.) que vinham sendo transmitidas oralmente de geração para geração. Os primeiros estudos dessa matéria narrativa, recolhida da memória do povo, se deveram ao arqueólogo Winckelmann (1717-1768) e aos filósofos Herder (1744-1803) e Hartmann (1842-1906). Todos eles, por diferentes caminhos, buscavam na literatura primitiva dos mitos, lendas e sagas germânicas, guardadas pela memória popular, encontrar as bases para uma filosofia da história da humanidade (Objectivo que se transformou no título de um livro escrito por Herder entre 1784 e 1791).

Divulga-se, entre os estudiosos, a consciência de que as narrativas maravilhosas (que eram contadas”ao pé do fogo” durante os longos dias de inverno, enquanto as mulheres fiavam), muito mais do que mero entretenimento, eram um meio extremamente eficaz para a transmissão dos valores de bases dos grupos sociais. A literatura oral (sob a forma de contos de fadas, sagas, lendas, contos, etc.), foi, inclusive, chamada de “filosofia da roda de fiar” ( rocken philosofie).

Segundo Herder, tais narrativas (de tradição oral e que constituíam o foclore de cada povo) continham, sob formas simbólicas, reminiscências de antigas crenças (“sabedoria” ou “fé”) que há muito estavam enterradas e completamente ignoradas pelos novos tempos. No início do séc. XIX, com eclosão dos estudos filológicos e linguísticos comparativos, intensifica-se o interesse pela literatura oral, folclórica e tem início a procura sistemática de textos antigos e de testemunhas orais que pudessem fornecer novo material para a pesquisa. Foi ainda na Alemanha que (devido principalmente ao trabalho dos filólogos Wilhelm e Jacob Grimm) essa busca, organizada e perseverante, alcançou sua maior amplitude e prestígio.

A difícil procura e fixação dos textos utilizou-se das fontes vivas da Tradição Popular: as cantigas e estórias repetidas pelas crianças, – consideradas “verdadeiro ponto de transição entre a alma popular e a inteligência culta” e gravada pela memória dos velhos, – homens e mulheres do povo, que sempre foram os grandes agentes de conservação e transmissão das tradições herdadas.

Com essa recuperação da memória ancestral, uma grande descoberta é feita: apesar da diversidade de suas regiões de origem e das enormes diferenças de cultura entre os povos que as criaram, essas várias narrativas primitivas, transmitidas oralmente através dos séculos, apresentavam enormes semelhanças de motivos, argumentos, tipos de personagens, tipos de metamorfoses, etc., etc. Semelhanças essa que só poderiam ser explicadas pela existência de uma fonte comum (que as pesquisas acabaram por localizar na Índia de antes de Cristo).

Foi, pois, esse gigantesco trabalho de recuperação das fontes vivas de cada nação (representadas pelas narrativas orais e folclóricas e textos novelescos arcaicos) que revelou aos homens o fantástico caudal de narrativas que, a partir de uma fonte-mãe (as narrativas indianas em sânscrito), foram sendo tecidas, desmanchadas e novamente tecidas com mil outros fios, como uma fabulosa tapeçaria de Penélope que, impregnada de maravilhoso, recobre todos os povos da terra.

{bibliografia}

Theóphilo Braga, Contos tradicionais portugueses, 2 vols, 2. ed., Lisboa, 1915; Cascudo Câmara, Dicionário do Folclore Brasileiro, 2 vols. Rio de Janeiro, 1962; id., Literatura Oral, Rio de Janeiro, 1952; Johannes Hartmann, O Livro da História, Lisboa, 1976; Pe. Lavadan et Alii, Dictionnaire Illustrè de Mythologie et des Antiquités Grecques et Romanes, Paris, s/d.; M. Menendez Pelayo, Orígenes de la novela, I Santander, 1963;