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Palavra (substantivo feminino) que surge pela primeira vez na nossa língua em 1873 – liptotes – por influência do francês li(p)tote, que, por sua vez, deriva do latim tardio litotes e este do grego litós (litótes) que significa simples, pequeno.

Trata-se de uma figura de retórica que consiste em afirmar algo indirectamente através da negação ou diminuição do seu oposto ou contrário. Em Os Lusíadas, Camões, na Dedicatória a D. Manuel, afirma: «Vereis amor da Pátria não movido/De prémio vil […]» (I, 10) querendo dizer que os feitos heróicos dos portugueses se regeram por princípios patrióticos e morais; declara, ainda: «Ouvi: que não vereis com vãs façanhas,/Fantásticas, fingidas, mentirosas,/Louvar os Vossos […]» (I, 11), ou seja, aquilo que irá louvar são factos reais, fruto da coragem e dedicação do povo português. Em The Picture of Dorian Gray, de Oscar Wilde, após uma má representação do seu papel em Romeu e Julieta, Sybil diz a Dorian: «I wasn’t a very good Juliet tonight.», querendo com isto dizer que tinha feito uma má representação. Fernão Lopes, no Prólogo à Crónica de El-Rei D. João I e a propósito da pesquisa feita para reunir todos os dados necessários à sua crónica diz que tal foi feito «não sem gran trabalho a nós de ordenar.»

Trata-se, pois, de uma forma de atenuar o pensamento, daí que se considere esta figura como um antónimo de Hiperbole e sinónimo aproximado de Eufemismo e Meiose.

A litotes é muito utilizada na linguagem quotidiana; “não raro” dizemos: Não te esqueças em vez de Lembra-te, Nada mal por Bom/Bem, ou Não muito por Pouco.

{bibliografia}

Claudia Caff: “Litote”, Journal of Pragmatics, nº 13/6, 1989; Elizabeth McCutcheon: “Denying the Contrary: More’s Use of Litotes in the Utopia”, Moreana, nº31-32, 1971; Emily S. Aptis: “Writing Without Style: The Role of Litotes in Gide’s Concept of Modern Criticism”, The French Review, nº 57/1, 1983.