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Em 1968, Marvin Harris introduz o materialismo cultural, na obra The Rise of Anthropological Theory, como um novo método de pesquisa dos sistemas socio-culturais da evolução humana. Nesta perspectiva antropológica, Harris defende que "[t]he task of cultural materialism is to create a pan-human science of society whose findings can be accepted on logical and evidentiary grounds by the pan-human community" (Cultural Materialism: The Struggle for a Science of Culture, Random House, Nova Iorque, 1979, p. xii). O materialismo cultural resulta de um desenvolvimento do modelo marxista para a interpretação da cultura (infraestrutura, estrutura e superestrutura), partindo do pressuposto de que todas as formas de cultura, sujeitas a políticas discriminatórias, aproveitam apenas as classes dominantes.

No âmbito da teoria literária, a crítica de inspiração marxista mais recente tem feito combinações complexas do tipo: “estruturalismo marxista”, “marxismo pós-estruturalista”, “psicanálise marxista” (como é que os leitores são formados como sujeitos colectivos ou individuais pelo inconsciente e com que fim político?), “feminismo marxista”, etc. Estas novas variantes têm atacado todas as outras escolas – a desconstrução, por exemplo – por deixarem de fora das suas análises textuais os aspectos sociais e políticos. Deixando de fora a longa história do marxismo até Althusser, inclusive, e a tentativa do filósofo francês Pierre Macherey, em Para Uma Teoria da Produção Literária (1966), no sentido de combinar o estruturalismo literário com o marxismo, interessa à textualidade contemporânea a tendência recente de reconciliar a crítica marxista da literatura com a sua tradição. Tal tendência, curiosamente, tem-se manifestado na crítica anglo-americana, que só nas duas últimas décadas criou escola. Na Grã-Bretanha, Raymond Williams e o professor de Oxford Terry Eagleton são as figuras centrais do recente marxismo literário e cultural, ao passo que, nos Estados Unidos, Frederic Jameson é a principal referência. Williams adoptou o marxismo apenas no final da sua carreira. No livro fundamental Marxism and Literature (1977), recuperou a expressão “materialismo cultural” (cultural materialism), que definirá mais tarde como a “análise de todas as formas de significação, incluindo o estudo nuclear da escrita no quadro dos verdadeiros meios e condições de produção” ("Marxism, Structuralism and Literary Analysis", New Left Review, nº129, 1981, 51-66, pp.54-55). A principal preocupação final de Williams é não permitir que o texto literário transcenda a realidade cultural que o produziu, mas que, de preferência, a corporize positivamente.

Em 1976, Eagleton publica Marxism and Literary Criticism e Criticism and Ideology, este último um estudo marxista influenciado ainda por Althusser e Macherey, onde propõe uma reavaliação do problema fundamental entre ideologia e literatura. Por ideologia entende o conjunto das ideias, dos valores e dos sentimentos que informam a experiência social humana e que só estão disponíveis para a nossa compreensão através da literatura. Eagleton desenvolve ainda o conceito central de ideologia do texto: um texto não é o reflexo da realidade mas de uma ideologia que está ao serviço da produção dos efeitos de verosimilhança. Tal conceito pode servir-nos para determinar o valor estético e ontológico de um texto literário.

Ao materialismo cultural britânico corresponde nos Estados Unidos o movimento conhecido por “novo historicismo” (new historicism), onde destacamos Frederic Jameson. A expressão “novo historicismo” tem-se vindo a universalizar e tende a incluir o materialismo cultural, sendo difícil estabelecer diferenças significativas entre ambos, a não ser uma maior convicção marxista no caso britânico, ainda sob a influência de Althusser, e uma maior moderação no caso americano, mais concentrado na teoria cultural de Michel Foucault. A obra-charneira de Jameson é The Political Unconscious – Narrative as a Socially Symbolic Act (1981), onde defende que o marxismo é o resumo de todos os outros modelos (estruturalismo, desconstrução, crítica arquetípica, interpretações alegóricas, lacanianas e freudianas), quando se dirige para uma abordagem política do texto literário, revelando o “inconsciente político” do texto.

{bibliografia}

Alan Sinfield: Faultlines: Cultural Materialism and the Politics of Dissident Reading (1992); Andrew Milner: Cultural Materialism (1993); John Brannigan: New Historicism and Cultural Materialism (1998); John Higgins: Raymond Williams:Literature, Marxism and Cultural Materialism (1999); Kiernan Ryan (ed.): New Historicism and Cultural Materialism: A Reader (1996); Scott Wilson: Cultural Materialism: Theory and Practice (1995).

http://www.indiana.edu/~wanthro/mater.htm

http://dannyreviews.com/h/Cultural_Materialism.html

http://www.as.ua.edu/ant/Faculty/murphy/cultmat.htm