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Trata-se de um movimento literário surgido em França na primeira metade do séc. XIX, constituindo uma reacção contra o romantismo, contra o excesso de sentimentalismo, visando despersonalizar ou objectivar a poesia. Já Vigny e Vitor Hugo, reagindo contra o excesso de sentimento romântico, se tinham lançado no tratamento de temáticas de âmbito geral, e não individual, rejeitando métodos pessoais e íntimos de expor o sentimento, como a confidência amorosa. Pretendia, também, este movimento, reagir contra a anarquia formal, propondo o regresso às formas clássicas da poesia, consideradas perfeitas. O retorno à Antiguidade Clássica é uma característica comum aos parnasianos, valorizando as formas fixas, as rimas invulgares.

Esta reacção teve como lema «a arte pela arte», ou seja, a arte como um fim em si mesma, colocando-a ao serviço da sociedade. A poesia era quase considerada uma religião. O nome deste movimento deriva do título dado a uma colectânea feita por Lemerre ( Parnase Contemporain ), na qual reuniu os poetas novos. Como seus fundadores, consideram-se Théophile Gautier (1811-72) e Leconte de Lisle (1818-94).

Em Portugal, esta corrente só se começou a sentir na segunda metade do séc. XIX e nunca chegou a assumir-se verdadeiramente. As ideias novas, tendo chegado ao nosso país tardiamente, confluiram com ideias que entretanto floresciam. Eça de Queirós e Antero de Quental chamavam a atenção, nesta altura, para o papel intervencionista do escritor, com a função de interagir na cultura e no pensamento da população, como uma missão social que lhe é atribuída, o que se pode relacionar com o ideal da «arte pela arte» já referenciado. O parnasianismo foi colidindo com o realismo, com o simbolismo, tendo como aspecto comum a todos eles a renúncia ao sentimentalismo e ao egocentrismo românticos resultando em alguns autores, como Gomes Leal, Guerra Junqueiro, Guilherme Azevedo, Cláudio José Nunes, Alexandre da Conceição, Cândido Figueiredo, uma poesia multifacetada, entendida como sendo ora de influência parnasiana, ora aflorando a temática simbolista. Teófilo Braga reuniu muita desta poesia híbrida no Parnasso Português Moderno (1877).

Como parnasianos genuínos, temos a considerar João Penha (1838 – 1919) que fez coexistir a observação do real quotidiano com o rigor rimático e que, como director da revista «A Folha» reuniu, em Coimbra, alguns escritores, quer parnasianos, quer realistas, que formaram o primeiro grupo de parnasianos, tais como: Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Teófilo Braga, entre outros. João Penha nunca pretendeu imitar os parnasianos franceses, deixando claros os seus objectivos ao afirmar:

Eu nunca os segui [os nefelibatas], como também nunca segui os parnasianos, ou outros quaisquer metrificadores de pensamentos. Tenho-me seguido a mim mesmo, não por orgulho, mas porque nunca me senti com tendências para andar na rectaguarda de pessoa alguma […]. A estética dos parnasianos resume-se em que toda a produção poética deve ser uma obra de arte. Quanto ao mais, não vejo entre eles o mais insignificante ponto de contacto.

A estética que sigo é realmente aquela, mas com as modificações que, se me não engano, são minhas próprias.

(Ap. Maria Virgínia Veloso, O Parnasianismo em Portugal, 2ª parte «O parnasianismo português», p.86).

Tais afirmações foram reforçadas por Pierre Hourcade, ao dizer que o grupo parnasiano português trabalhava de forma autónoma e original:

On a d’ailleurs cherché à l’époque, selon une habitude qui est presque devenue un rite, à apparenter João Penha et ses amis à un mouvement littéraire français: le Parnasse. Malheureusement, mis à part Gonçalves Crespo qui faisait les délices de Théophile Gautier et du Parnasse Contemporain, la lecture attentive de la Folha nous révèle un culte profond des lyriques romantiques, et une indiférence non moins profonde à l’égard de Leconte de Lisle et de ses amis. Le terme de “parnassienne” apliqué à la génération de la Folha ne peut donc définir que son souci incessant d’une forme travaillée.

(Ibid., O Parnasianismo em Portugal, 2ª parte «O parnasianismo português», p.87).

Para João Penha, o poeta vai-se construindo a si próprio, chamando a atenção para a necessidade de criar uma grande harmonia entre as palavras, como som, e as palavras, como pensamento. Toda a obra de João Penha se explica pela atitude que tomou em face do ultra-romantismo. A mulher, que até aí fora adorada como uma deusa, foi tratada por ele com vulgaridade e a sua poesia tem um carácter material e prosaico. Gonçalves Crespo acrescentou à sua poesia o gosto pelo descritivo.

Nos anos 80, o parnasianismo encontrou um novo impulso: o segundo grupo de poetas parnasianos em que, ao nível de Luís de Magalhães e de Manuel da Silva Gaio, com características verdadeiramente simbolistas, se destacou António Feijó (1859 – 1917) que representou a influência das teorias parnasianas numa outra geração. Há neste poeta vestígios da pintura artística de Crespo, mas os seus textos não conseguem ser puramente objectivos, devido à sua grande sensibilidade lírica.

Entre os poetas da segunda fase parnasiana, salienta-se, também, Cesário Verde (1855-86), considerado o mais significativo poeta parnasiano português e o poeta do quotidiano que procura reflectir a realidade concreta, poetizando as profissões mais humildes, elevando a nível poético aspectos vulgares e seus respectivos protagonistas: os transeuntes, as vendedeiras, a engomadeira, etc. A variedade de tipos urbanos, na poesia cesariana, encontra-se a par de estados de alma nos quais predominam o tédio da cidade e da vida diária, ao lado das evocações nostálgicas do passado e do campo como refúgio.

No Brasil, o parnasianismo teve maior repercussão do que em Portugal e teve um nascimento mais faseado: desacreditou-se o romantismo, pois, apesar do grande entusiasmo que a poesia romântica ganhara junto do público leitor, também foi vítima do descrédito lançado por aqueles que defendiam ideias novas, os realistas, sobretudo entre 1878-80. Dentro deste grupo de opositores, salientam-se Sílvio Romero, Machado de Assis e Raimundo Correia; conseguiram, assim, destronar a sentimentalidade, o egotismo, porque estes aspectos se alheavam dos factos e problemas da vida social, mais importantes, graves e abrangentes do que o sofrimento, angústia, dor, desgosto de cada um individualmente, que constituía o fulcro do romantismo. O versilibrismo foi igualmente destronado por ser responsável por uma anarquia geral a nível da forma e da linguagem usada. Numa segunda fase, experimentou-se uma «poesia científica», centrada no cientificismo, uma «poesia socialista», focalizada em preocupações revolucionárias e uma «poesia realista», dominada por temas do quotidiano.

Artur de Oliveira (1851-82) que estivera em Paris, divulgou no Brasil as teorias parnasianas francesas. Um artigo escrito por Machado de Assis, «A Nova Geração», e publicado em 1879, foi decisivo no arranque do Parnasianismo. Porém, nem as poesias científica, socialista, nem realista conseguiram cativar os poetas de maiores recursos, pelo que o caminho mais atraente a seguir era o Parnasianismo, onde se destacaram Olavo Bilac (1865-1918), Alberto de Oliveira (1857-1937), Raimundo Correia (1860-1911) e Vicente Carvalho (1866-1924). Quanto às temáticas comuns a estes poetas, registam-se o realismo (o Homem é um ser integrado na realidade, na vida, na sociedade), o universalismo (busca dos valores/ aspectos gerais e intemporais da realidade, quer estética, quer moral e do Homem enquanto ser universal) e esteticismo (perfeição quanto à sintaxe, ao léxico, ao ritmo). Este tópico é basilar dentro da teoria parnasiana, para a qual a perfeição formal é necessária para a expressão da realidade.

A diferença entre os parnasianos e os realistas é que os primeiros valorizam apenas os aspectos que podem ser esteticamente reproduzidos ou dão um tratamento poético, pela primeira vez na poesia, de temas do quotidiano, enquanto os segundos tratam sem distinção todos os aspectos da realidade, preferindo, por vezes, as suas vertentes mais sombrias. O Parnasianismo valoriza, pois, a estética, a serenidade, o equilíbrio, aproximando-se assim do espírito clássico, servindo-lhe até de exemplo o nome grego de «Parnasso», monte dedicado a Apolo, inspirador de poetas, evocando assim o ideal apolíneo.

{bibliografia}

Maria Virgínia Veloso, O Parnasianismo em Portugal, (1943); Hernâni Cidade, O Conceito de Poesia como Expressão da Cultura, Coimbra, (1957); Óscar Lopes, Realistas e Parnasianos (1860-1890), s.d.