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O vocábulo pathos vem do grego phatos, com o significado de sentimento, de sofrimento. Dele originou-se o termo patético, empregado, nos dias atuais, em sentido mais pejorativo do que positivo, sinalizando para algo excessivamente afetado, como o melodrama. Uma abordagem proveitosa do conceito de pathos pode ser realizada, por exemplo, com base nos ensinamentos da Retórica e da Poética antigas.

No que à Retórica diz respeito, devemos pensar, sobretudo, na maneira pela qual a arte de persuadir pelo discurso sistematizou as provas ou os argumentos. Na Retórica, os afetos são designados justamente sob o termo bastante genérico de pathos. Para Aristóteles, encaixavam-se nessa rubrica emoções fortes negativas ou positivas, tais quais a cólera, o temor, a indignação, o terror, a inveja, o ódio, a vergonha, a indignação, a piedade, a alegria, entre outros.

Na origem, o pathos é ingrediente fundamental de uma modalidade de provas intrínsecas. A esse respeito, é válido rememorar que as provas intrínsecas são lógicas ou psicológicas. Se lógicas (racionais), dividem-se em silogismos e exemplos; se psicológicas, em éticas e patéticas. A divisão ancora-se no fato de haver, na persuasão, um componente racional e um emocional.

As provas intrínsecas psicológicas produzem comoção psíquica no público, para que este aceite mais facilmente a proposição do orador. Tal consentimento afetivo, como acontece igualmente com a convicção intelectual, pode suscitar uma ação. Como se tem sugerido, os argumentos de cunho psicológico bifurcam-se em duas linhas: os éticos e os patéticos.

Os argumentos ou provas éticas assentam-se na impressão favorável que o orador transmite de si ao auditório. Pelas provas éticas, os oradores fazem-se recomendáveis e dignos de serem escutados. Por conta disso, buscam apresentar-se como pessoas boas, dotadas de sentimentos humanitários, agradáveis, prudentes, virtuosas, nobres, sábias, fortes e sinceras.

Persuadir os ouvintes por meio das paixões, eis a finalidade dos argumentos patéticos. As paixões (pathos) agem diretamente no auditório, porque, como bem anota Aristóteles (1964, p.100), as paixões “são as causas que introduzem mudanças em nossos juízos”, que variam consoante experimentamos um sentimento agudo, como a alegria ou o ódio. As paixões, enfim, levam o auditório, pela emoção, a esposar a proposição do orador.

Reportando essas observações para o campo da poética, podemos asseverar que o pathos relaciona-se às emoções provocadas por uma ação dramática nos espectadores ao longo da apresentação de uma peça teatral. Conforme se nota, o pathos (patético) é um modo de recepção que pode conduzir à catarse. Assim, o público é como que instado a identificar-se com um evento perturbador. Torna-se útil reparar que o pathos era mesmo uma das partes que entravam na constituição do subgênero tragédia grega.

Embora identificado, originalmente, no modo dramático, o pathos ocorre, sem embargo, no modo narrativo (prosa de ficção) e também no modo lírico. Historicamente, o pathos tem exercido influência na literatura barroca, romântica, simbolista, impressionista e em muitas tendências das letras atuais.

{bibliografia}

Aristóteles: Arte Poética e Arte Retórica (1964); João Adalberto Campato Junior: Retórica e Literatura (2003). Michel Meyer: A Retórica (2007).