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Também denominada “teatro de tese” (thesis play), a peça problemática caracteriza-se pelo enfoque numa determinada questão de âmbito social. Independentemente da configuração da acção dramática e de os seus contornos assumiram um pendor trágico ou comico, é a centralidade do problema tal como é equacionado na peça que lhe confere a especificidade conducentes à designação dada a este género.

Sendo embora um género recente, já que é criado e amplamente explorado pelo drama realista dos finais do séc. XIX, podemos remeter o seu nascimento embrionário para algumas obras de William Shakespeare. Com efeito, em peças como Measure for Measure e The Merchant of Venice, encontramos já um modelo de estruturação temática cujo núcleo e motor da própria acção consiste na figuração de um problema de âmbito social.

De qualquer modo, é com os adeptos do Realismo nas últimas décadas do séc. XIX que a peça problemática se constitui como um género distinto, alargando-se o espaço nela dedicado à questionação do tema ou temas em análise. Henrik Ibsen, o dramaturgo norueguês aclamado como fundador do realismo dramático a nível europeu, é o autor das primeiras peças problemática, de entre as quais de destaca A Casa da Boneca (1879), a primeira peça a encenar questões directamente relacionadas com a emancipação da mulher.

Em Inglaterra, o primeiro grande cultor deste género é Sir Arthur Pinero, o autor de The Second Mrs. Tanqueray (1893). nesta obra, Pinero debruça-se sobre uma das questões mais candentes na época: a mulher com um passado moralmente condenável e que tenta reintegrar-se na sociedade (“The Woman with a past”).

Na esteira de Ibsen e de Pinero, George Bernard Shaw dá o seu contibuto para a consolidação deste género ao abordar, nas suas primeiras peças, certos problemas sociais que por essa via adquirem maior premência e visibilidade. É o caso de Widowers’ Houses (1892), em que se discutem as condições de vida nos bairros degradados (“slums”), e Mrs. Warren’s Profession (1902), onde se ousa a abordagem de um tema condenado pela censura da época: a prostituição.

Ainda nos primeiros anos do séc. XX, John Galsworthy questiona também a sociedade so seu tempo através da seriedade dos temas tratados em peças como The Silver Box (1907), Strife (1909) e Justice (1910). Dentro da peça problemática, podemos consignar a existência de um subgénero denominado peça de discussão (“discussion play”). Trata-se de um texto em que as personagens encarnam diferentes pontos de vista em relação a um tema, pelo que a obras se aproxima da encenação de um autêntico debate. Bernard Shaw cultivou este tipo de drama em peças como Getting Married (1908), Misalliance (1909) e The Apple Cart (1929).

{bibliografia}

Damian Grant, Realism, 1970; Maurice Larkin, Man and Society in Nineteenth Century Realism, 1980; J. L. Sytan, Modern Drama in Theory and Practice, vol. I, id., Realism and Naturalism, 1981; Robert Whitman, Shaw and the Play of Ideas, 1977; Stanley Weintraub (ed.), Shavian Realism, 1988.