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Termo referente a uma publicação periódica que difere do jornal quanto à periodicidade (semanal, mensal, bimensal, trimestral, anual, ou outra), quanto ao formato, quanto à qualidade gráfica e quanto ao conteúdo. A R.L. é “um testemunho elucidativo de uma época, do pulsar do tecido social, das suas contradições, das ambições e limitações que a rodeiam, dos mecenas, da cultura, em sentido lato, de uma determinada ordem social” (Daniel Pires, Dicionário das Revistas Literárias Portuguesas do Século XX, Contexto Editora Lda., Lisboa, 1986, p.19). No fundo, assume como objectivos principais a divulgação e a alta especialização, sendo através dela que se faz o intercâmbio mundial de novas aquisições obtidas no campo da investigação científica.

Num estudo sobre as R.L. portuguesas do século XX, Daniel Pires aponta algumas teses gerais relativamente à importância destas publicações: tratam-se de complementos indispensáveis para a compreensão de uma época, vectores de confrontação entre as mundividências e se experimentam novas ideias e formas, no dizer de Paul Valéry, são corpos de alguma colaboração multifacetada e relevante, meios de transmissão de informação concisa, precisa e útil, e veículos porta-vozes de movimentos literários que – arrisca até a afirmar – chega a corresponder a cada movimento o seu periódico.

Em Portugal, a Gazeta Literária ou notícia exacta dos principais escriptos modernos, conforme a analysis que delles fazem os melhores críticos e diaristas da Europa, fundada no Porto em 1761, é exemplo de uma imprensa periódica que apresenta já características de R.L. No seu número de abertura podia ler-se nomeadamente: “É a crítica uma arte que, sendo exercitada com prudência e justiça serve de apurar mais o bom gosto das Ciências e Belas-Artes, e de fazer aparecer a verdade, que as mais vezes se encobre ainda aos olhos dos mais perspicazes. Com o uso dela, cuidam os Escritores em aparecer com mais decência diante do público, porque o receio de desagradarem aos críticos os obriga a buscarem as aprovações do público.” No século XIX, com o advento do Romantismo, verificou-se uma proliferação de revistas: o Jornal de Coimbra (1812), R.L. publicada em Lisboa; a Revista Estrangeira (1837) e O Panorama (de 1837 a 1868); a Revista Literária (1839); a Revista Universal Lisbonense (de 1842 a 1853), foi redigida em Lisboa por António Feliciano de Castilho e teve, no decorrer dos seus doze volumes, a colaboração de Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Andrade Corvo, Camilo Castelo Branco, João de Lemos, e outros.

A Revista Contemporânea de Portugal e Brasil publicou-se em Lisboa (de 1859 e 1865) e teve a colaboração literária de António Feliciano de Castilho, Bulhão Pato, Camilo Castelo Branco, Ernesto Biester, Latino Coelho, Machado de Assis, Pinheiro Chagas e Teófilo Braga. A Revista Occidental foi dirigida por Antero de Quental e Jaime Batalha Reis. Saíram doze fascículos em Lisboa, a partir do dia 15 de Fevereiro de 1875, tendo a particularidade de publicar em folhetins a primeira versão, embora longe da definitiva, do Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós. Da lista de colaboradores puderam ler-se os nomes de Adolfo Coelho, Antero de Quental, Gomes Leal, Gonçalves Crespo, Jaime Batalha Reis, Maria Amália Vaz de Carvalho e Oliveira Martins. Em Coimbra publicou-se um único número da R.L. Anathema, rasgado protesto de alguns dos autores acima citados e muitos outros contra o ultimato inglês. Segundo a direcção de Eça de Queirós publicaram-se vinte e quatro números de quatro volumes (de 1889 a 1892) da Revista de Portugal. Nela, Eça publica as Cartas de Fradique Mendes, Oliveira Martins Os Filhos de D. João I e Antero as Tendências Gerais da Philosophia. A Arte, publicada no Porto (de 1898 a 1899) foi o órgão do movimento intelectual em Portugal e apresenta a colaboração de Afonso Lopes Vieira, Augusto Gil, Bulhão Pato, Columbano Bordalo Pinheiro, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Teixeira de Pascoaes e Trindade Coelho, para nomear somente alguns.

Chegados ao século XX, “revistas há que se celebrizaram pela sua acção ao nível da divulgação das literaturas estrangeiras. É o caso da Presença [relativamente às literaturas francesa, italiana, russa e brasileira], a Revista de Portugal [que dá a conhecer alguns vultos das letras brasileiras, francesas], Aqui e Além (cujo título é sintomático a esse respeito), Mundo Literário, Confronto, Unicórnio, Neo, 4 Ventos (título igualmente revelador), Tempo Presente, Jornal de Letras e Artes, Cronos, Commedia, etc.” (Clara Crabbé Rocha, Revistas Literárias do Século XX em Portugal, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1985, p.224). No entanto, outras R.L. não se contentaram em divulgar nomes estrangeiros e dedicam-se às correntes estético-literárias que eclodiram noutros países, de que são exemplo Orpheu, Portugal Futurista ou Sudoeste. Outras há que se situaram numa linha clara de nacionalidade: Vida Portuguesa (1912), Alma Nova (1914), Portucale (1928), Pátria (1931), Bandarra (1935), Critério (1975) e Cultura Portuguesa (1981).

Ao longo do século XX regista-se uma oscilação clara entre os modelos de importação externa mais vanguardistas – Modernismo, Neo-Realismo, Surrealismo, Existencialismo, Experimentalismo, etc. – e os modelos internos de raiz tradicional.

O livro de Clara Crabbé Rocha intitulado Revistas Literárias do Século XX em Portugal (Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1985) continua a ser uma obra de referência no campo das R.L. Apresenta uma visão analítica dos periódicos literários per si e a jeito de conclusão um “ficheiro sumário das revistas, jornais literários e volumes colectivos encontrados, acrescentado duma bibliografia selectiva que engloba as obras teóricas e críticas relativas aos vários movimentos e gerações considerados” (Clara Crabbé Rocha, Revistas Literárias do Século XX em Portugal, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1985, p.633).

Somente de 1861 a 1890 fundaram-se, em Portugal, 164 revistas (cf. H. De Carvalho Prostes , Statistique de la Presse Portugaise 1641 à 1872, Lisboa, 1873 relativamente ao período anterior). De entre as revistas que deixaram de ser publicadas estão as seguintes: Revista Lusitana, de 1887 e 1939, dirigida por J. Leite de Vasconcelos; a Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós de 1889 a 1892, entre muitas outras. Algumas das principais revistas iniciadas no século XX e ainda em publicação, além de Biblos, Brotéria, Colóquio, Itinerarium, Humanitas, Panorama, Seara Nova, Vértice, etc.

Em Espanha, a censura desempenhou um papel extremamente negativo, suprimindo revistas ou limitando a sua acção. Não obstante, a forma primitiva ou inicial das R.L. espanholas data do século XVIII e apresenta uma publicação mensal, surgindo em Madrid: Efemérides Barométricomédicas Matritenses (1734-1737), que contou com a colaboração redactorial de distintas personalidades de carreira científico-literária como Fernández Navarrete, Martínez Argandona e José Ortega; Diario de los Literatos de España com sete volumes publicados entre 1737 e 1742 que mereceu a protecção real de Filipe V; o Correo General Histórico, Literario y Económico de la Europa, continuação de La Estafeta de Londres, semanário escrito em forma de cartas com informação muito diversa. Surgem mais tarde Artes y Literatura (1819) com inclinação política explícita, dirigida por Javier de Burgos; El Censor (1820-22) com artigos de crítica literária, literatura dramática dos literatos J. M. Goméz Hermosilla e S. Miñano. Durante o século XIX, as R.L. publicadas em Madrid, por se tratar da capital de Espanha, exerceram uma marcada influência literária e política em todas as províncias espanholas, cujo eco repercutiu-se em Cuba e nas Filipinas. A posteriori, contudo, começou a aumentar a publicação de R.L. no vernáculo correspondente de cada local e região. Do século XX destacam-se: Hora de España, publicada em plena guerra civil e acompanhando as suas vicissitudes, contando com António Machado, Dâmaso Alonso, Pablo Neruda, Rafael Alberti, Tristan Tzara, Vicente Aleixandre, entre muitos outros (publicada primeiro em Valência e posteriormente em Barcelona, de Janeiro de 1937 a Dezembro de 1938).

As primeiras R.L. inglesas datam do século XVIII: Memoirs of Literature (1710), mais tarde New Memoirs of Literature (1725) e Literary Journal de origem irlandesa (1730). No final do primeiro quartel do século XVIII a R.L. começou a assumir o seu verdadeiro carácter moderno com Monthly Review (acima referida), completando-se esta tendência por todo o século XVIII inglês. A esta última etapa pertencem os seguintes periódicos: Critical Review, supervisionada por Smollett (1756), Literary Magazine (1756), Critical Review (1756), London Review (1775), English Review (1783), British Critic (1793). O século XIX, ligado ao advento do Romantismo, consolidou-se o surto de periódicos literários. A Grã-Bretanha começou a desenvolver a sua produção de R.L. tendo a sua maior parte legado até à época actual. Assim, fundada por Sidney Smith e Francis Jeffrey (de 1802 a 1929) floresce a Edinburgh Review, a Quaterly Review de cariz conservador é incentivada por Sir Walter Scott (1809), surge depois Modern Thought (1870), Literary Gazette (1817) e Academy (1869). Complemento das R.L. desta época são as provindas das colónias britânicas e outros países mantidas em língua inglesa, como por exemplo Asiatic Miscellany (1783), Calcutta Literary Gazette (1830) e Calcutta Review (1846), de entre as mais importantes do Império da Índia. Em Ceilão publica-se Ceylon Literary Register (1886), na Austrália Sydney University Magazine, a primeira revista de elevado carácter literário. No que diz respeito ao século XX, são de referência obrigatória os seguintes periódicos: o suplemento literário do Times que se vem publicando desde 1902, Poetry and Drama (de 1913 e 1914), The Criterion (de 1922 e 1939) que contou com a colaboração de Ezra Pound, Herbert Read, Herman Hesse, Luigi Pirandello, Paul Valéry, T. S. Eliot, e Virginia Wolf, entre outros. Surgiram também International Pen, publicada em Londres (em 1950), uma co-edição da Unesco e do Pen Club; Essays on Poetics – the Journal of the British Neo-Formalist Circle editado pela Universidade de Keele (desde 1976); e Comparative Criticism, publicada em Cambridge, datando o número original de 1979, só para nomear algumas.

Foi a França que lançou em 1631 o primeiro jornal literário intitulado Le Journal des Savants de cariz científico e literário, fundado por Dennis de Sallo, em Paris, no dia 5 de Janeiro de 1655. Propunha-se dar informação acerca dos livros importantes publicados na Europa. Durou treze números, não resistindo à censura. Imediatamente logo a seguir surgiu Nouvelles de la République de Lettres, editado por Pierre Bayle entre 1684 e 1718. No século XVIII, por toda a Europa, as revistas transformaram-se num instrumento cultural cada vez maior e mais generalizado, servindo de paradigma as revistas inglesas e francesas. A primeira a usar o nome de revista parece ter sido Monthly Review, iniciado em 1749, indicada mais à frente neste verbete. Ainda nesse século destacam-se na França os seguintes periódicos literários: Mémoirs pour Servir à l’Histoire des Sciences et des Arts (1701 e 1767), Gazette Littéraire de l’Europe (publicada de 1764 a 1766) apresentando a valiosa colaboração de Denis Diderot, D’Alembert e Voltaire e La Décade Philosophique, Littéraire et Politique, de 1794 e 1804. No século XIX, Révue de Littérature, Histoire, Arts et Sciences des Deux Mondes, publicada em 1848 e contando com a pena de Balzac, Renan, Saint-Beuve, Taine e Victor Hugo; Nouvelle Révue de Paris (1866), onde colaboraram Balzac, Flaubert e Lamartine ; La Syrinx (1892 e 1894) com a participação de André Gide, Eugénio de Castro, Maurras e Paul Valéry, entre outros. No que diz respeito ao século XX, as R.L. assumiram um papel muito importante no que diz respeito à teorização e divulgação de movimentos ditos vanguardistas. Eis alguns exemplos: Cahiers du Sud (publicados em Paris de 1914 a 1966) com textos de André Malraux, Anna Seghers, Antonin Artaud, Claude Roy, D. H. Lawrence, Dylan Thomas, Frederico Garcia Lorca, Georges Mounin, Jean Cassou, Octavio Paz, Paul Valéry, T.S.Eliot e Tristan Tzara, entre outros; Révue de Littérature Comparée (fundada em 1921 e que ainda se publica); L’Infini-Littérature/Philosophie/Art/Science/Politique (fundada em 1983) onde trabalham Jorge Luís Borges, Julia Kristeva, Norman Mailer, Philippe Sollers e Umberto Eco.

Na Alemanha, surgiu em 1862 Acta Eruditorum Lipsiensium, fundada por Otto Mencke e em cujos números subsequentes colaboraram Leibniz, Seckendorf e Cellarius. Esta serviu de modelo a outras como: de Hamburgo, em 1686, Ephemerides Litterariae, em latim e em francês; Nova Litteraria Maris Balthici et Septentrionis que perdurou entre 1698 e 1709, e muitas outras. Mais tarde, Nicolai funda Briefe die Neueste Literatur Betreffend (de 1759 e 1767), durando seis anos, e em que Lessing, Mendelsshon e Abbt divulgaram as grandes linhas de força do Iluminismo. O órgão do “Sturm und Drang”, Frankfurter gelehrte Anzeigen (publicado entre 1772 e 1791) teve a participação de Goethe, bem como Propylien (de 1798 e 1800). No século XIX nascem e prosperam Erlanger Literaturzeitung (1799-1810), Leipziger Literaturzeitung (1800-1834), Literarische Zeitung (1834), Allgemeine Monastsschrift für Literatur (1850), Literarische Handweiser (1862), Das Literarische Echo de periodicidade quinzenal (1898), Deutsche Monatsschrift (1902). Das R.L. publicadas no início do século XX destacam-se Die Aktion e Der Sturm (ambas de 1910) e ainda as Das Forum (editada de 1914 a 1929) assumiram um papel activo na teorização e divulgação do Expressionismo. As publicações científicas alemãs atravessaram, por volta de 1933, uma situação desesperada com a ascensão do nazismo ao poder. As revistas mais antigas vieram a suspender a sua publicação e outras dificilmente subsistiram graças à intervenção enérgica dos centros científicos. Destacam-se contudo Brecht Heute, dedicada exclusivamente à obra de Bertolt Brecht (publicada de 1971 a 1973).

{bibliografia}

Brett: Reader’s Guide to Periodical Literature (Minnesota, 1901-1908); Cláudia Maria dos Santos Álvaro: Leituras de autores brasileiros nas revistas literárias portuguesas dos anos 30 [Texto policopiado, dissertação de mestrado Estudos Portugueses, Univ. Lisboa] (Lisboa, 1988); Clara Crabbé Rocha: Revistas Literárias do Século XX em Portugal (Lisboa, 1985); Daniel Pires: Dicionário das Revistas Literárias Portuguesas do Século XX (Lisboa, 1986); H. De Carvalho Prostes: Statistique de la Presse Portugaise 1641 à 1872 (Lisboa, 1873); José Tengarrinha: História da Imprensa Periódica Portuguesa (Lisboa, 1965); Juan Criado y Domínguez: Antigüedad é Importancia del Periodismo Español. Notas Históricas y bibliográficas (Madrid, 1892); Maria José Florentino Mendes Canelo: A Construção Poética da Nação: Modernismo e Nacionalismo nas Revistas Literárias do Início do Século XX [Texto policopiado, Tese mestr. Estudos Anglo-Americanos, Univ. de Coimbra, 1997] (Coimbra, 1997); S. Parkes: “Account of Periodical Literary Journals” in Quaterly Journal of Science and Literature, Vol. XIII (s.d.); Sociedade de Geografia de Lisboa: Catalogo dos periodicos politicos e noticiosos e das revistas literarias e scientificas (Lisboa, 1893).

http://7mares.terravista.pt/bibliomanias/revistas_literarias.htm

http://kplus.cosmo.com.br/principal.asp

http://www.revistafauth.com.br/ (revista literária on line brasileira)

http://www.maderazinco.tropical.co.mz/