Termo cunhado por Bernard Pottier para designar o conjunto de traços mínimos distintivos de significação (semas) que referem a substância do conteúdo de um signo mínimo (morfema ou lexia). Pottier assim representa as diversas espécies de semas:
semas específicos
semas genéricos
semas virtuais
Os semas específicos (que constituem o semantema) distinguem contextualmente os morfemas (ou lexias, palavras vistas apenas sob o conteúdo semântico); os genéricos (que formam o classema) são os semas comuns a dois ou mais morfemas, enquanto os virtuais (ou virtuemas), nem sempre descritos, referem semas conotativos. As três classes podem ser representadas por semas descritivos (referem-se à natureza do termo estudado) ou aplicativos (referem-se à função ou destinação). Segue-se uma exemplificação desses usos, colhida em obra do autor (v. bibliografia). Seja a lexia ‘armário’:
DESCRITIVOS APLICATIVOS
Semantema / fechado por portas/ /para guardar objetos domésticos/
/provido de estantes ou gavetas/
Classema /material/
/descontínuo/
Virtuema /em madeira/
Nas grades em que se analisam dois ou mais sememas, os semas constituintes do classema são positivos, isto é, estão caracterizados por sua presença, convecionando-se marcá-lo com o sinal + (por exemplo, /+ animado/); já os do semantema jogam com a presença ou ausência dos semas, neste último caso marcado com – (- adulto, numa distinção entre as lexias ‘homem’ e ‘criança’, por exemplo). Consideram-se indiferentes os que podem ou não figurar na grade, sendo marcado por ~. Veja-se a grade a seguir, em que se analisam os sememas de ‘morrer’, ‘perecer’ e ‘falecer’:
‘morrer’ ‘perecer’ ‘falecer’
/cessar de viver/ + + +
por acidente brutal/ ~ + –
Embora o semioticista A. J. Greimas se valha do termo, fá-lo com outro sentido. Segundo ele, o semema é pertinente ao lexema, que admite, em geral, vários sememas, sendo estes correspondentes ao que entendemos em linguagem ordinária por “sentido particular”, “acepção” de uma palavra. Em outras palavras, o lexema é um conjunto de sememas (em casos esporádicos, se o conjunto é formado por um único semema, denomina-se estrutura monossemêmica). Tais sememas possuem dois tipos de semas: (i) os que são comuns a vários ou todos os sememas de um mesmo lexema, constituindo seu núcleo sêmico (figura nuclear) e (ii) os que provêm dos usos contextuais do lexema e constróem sua base classemática (classema). Logo, a figura nuclear é imanente e o classema surge na manifestação do semema. O lexema cabeça possui, em sua figura nuclear, por exemplo, semas como /+ extremidade/ e /+ superioridade/, nos seguintes sintagmas: “Ele é o cabeça do levante” ou “Examinou tudo da cabeça aos pés”. Já o sema /+ arredondamento/ faz-se presente em: “O chapéu não lhe coube na cabeça”. Quanto aos classemas, são formados por semas (positivos, negativos ou positivos e negativos) diferenciadores dos sememas descritos. Poderíamos, numa acepção corriqueira de líquido ter, segundo sua temperatura, /+ frio/, /-frio/ e /± frio/, este último correspondendo a “morno”. A formulação de Greimas permite, pois, que se efetue a distinção entre parassinonímia e sinonímia, pela “economia” dos semas contextuais, bem como, graças à figura nuclear, é fundamental na distinção sincrônica entre a polissemia e a homonímia.
Bibliografia:
POTTIER, Bernard. Linguistique générale. Théorie et description. Paris: Klincksieck, 1974; _____________. Gramática del español. 2 ed. reestructurada, Madri: Alcalá, 1970; GREIMAS, Algirdas J. Sémantique structurale. 2 ed. (revista e corrigida), Paris: Larousse, 1966; ______ e COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.
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