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Trata-se de uma figura que apresenta uma comparação explícita através do uso de conectores do tipo: por exemplo, como, tal, assim, qual, semelhante a. Se ao símile retirarmos as partículas de comparação podemos caminhar para a metáfora, onde a comparação passa a ser implícita: o símile justapõe duas realidades, a metáfora funde-as. A finalidade do símile é a de embelezar, ampliar ou clarificar uma imagem através da comparação de, pelo menos, duas realidades diferentes que apresentam alguma semelhança. O aspecto ou qualidade semelhante, aquilo que têm em comum, é chamado de tertium comparationis; consequentemente o que não faz parte deste é denominado dissimile. Assim, no exemplo « Em Santa Eulália as chaminés ficavam acesas até Abril; depois ornavam-se de braçadas de flores, como um altar doméstico.» ( Eça de Queiroz: Os Maias, Cap.I ), o tertium comparationis será a decoração com braçadas de flores que aproxima as chaminés dos altares; dissimile será tudo aquilo que separa estas duas realidades. O símile pode ser de formulação breve, como no exemplo já apresentado, ou extenso e decursivo. Nos chamados símiles épicos, a comparação é detalhada com o intuito de engrandecer ou criar expectativa face às acções ou acontecimentos, remontando o seu uso a Homero e Virgílio. São eles que nos seus símiles iniciam a comparação das lutas e dos guerreiros com as forças do mundo natural, sobrenatural e animal; tomemos um exemplo de Homero ao descrever Eneias: «Girava em torno dele, como um leão confiante na sua valentia» (Homero: A Ilíada, C.V). Fazendo parte da tradição da poesia épica europeia, encontramos este tipo de símile nas descrições que Camões faz dos guerreiros portugueses e das suas lutas. O símile épico é também usado com outro fim, como se pode verificar no seguinte exemplo exemplo d’Os Lusíadas: Qual o membrudo e bárbaro Gigante/Do Rei Saul, com causa, tão temido,/Vendo o Pastor inerme estar diante,/Só de pedras e esforço apercebido,/Com palavras soberbas, o arrogante/Despreza o fraco moço mal vestido,/Que rodeando a funda, o desengana/ Quanto mais pode a Fé que a força humana:/Destarte o Mouro pérfido despreza/O poder dos Cristãos (Camões: Os Lusíadas, C.III, 111-112). Pretende-se aqui, com o símile, tornar claros sentimentos e situações através da aproximação de realidades já conhecidas.

Bibliografia:

Anna Rizzo: «Similitudini e Comparazioni nell’Orlando furioso», Rassegna della Letteratura Italiana, nº94/3 (1990); Elyse Sommer e Mike Sommer (eds.): Similes Dictionary: Coll. of More Than 16 000 Comparison Phrases from Ancient Times to Present (1988); Fred Van Besien: «Metaphor and Simile», Interface, nº4/2 (1990); John Soldo: Simile and Metaphor: From the Unknown to the Known (1983); Kevin Dean: Satire, Similes and such Literary Terms for Students ( 1996); Ronald S. Sousa: «From Homer to the Testaments: Toward a Theory of Camões’ Similes», Camoniana Californiana , editado por Maria de Lurdes Belchior e Enrique Marinez Lopes (1985) ; Shane Stuart Gasbana: «Conceptions of Likeness in the Epic Similes of Homer, Virgil, Dante, and Milton» Tese de Doutoramento, Universidade de Yale (1991); W.P.Ker: «The Simile», Form and Style in Poetry (1928).