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Este termo designa os elementos extra-linguísticos que, não fazendo parte do conjunto dos referentes do enunciado, são pelos interlocutores pressupostos para poderem delimitar o seu sentido. É muitas vezes confundido com contexto.

É difícil dar conta com exaustividade de todos os elementos que integram a situação de um discurso, devido à natureza proliferante dos seus pressupostos e, por conseguinte, do seu sentido. Alguns autores propõem, no entanto, algumas categorias de situações. Integram a situação dos enunciados os elementis físicos, sociais e mentais a que os interlocutores recorrem para o estabelecimento dos seus referentes, para determinarem a natureza do acto de linguagem que eles realizam e para resolverem as suas eventuais ambiguidades, escolhendo, de entre as suas diferentes interpretações possíveis, aquela que corresponde ao sentido por eles visado.

Tomemos, por exemplo, o enunciado «está uma grande corrente de ar». Independentemente da situação enunciativa, este enunciado tem uma diversidade de sentidos possíveis. Pode ser um enunciado literal, irónico ou metafórico. Pode visar, entre outros objectivos, a exposição de um determinado estado de coisas, ser dito com a intenção de pedir ou de dar uma ordem ao interlocutor para fechar a janela. Só o apelo à situação enunciativa poderá levar o interlocutor a escolher um dos sentidos possíveis do enunciado. O facto de saber, por exemplo, que o locutor está constipado constitui um elemento da situação enunciativa que o levará a escolher, de entre os sentidos que o referido enunciado pode ter, o de um pedido do locutor para ele fechar a janela da sala.

O apelo à situação para a desambiguização dos enunciados é uma exigência da linguagem natural, o que a distingue das linguagens formais constituídas por um processo de abstracção, com vista à elaboração de expressões universalmente válidas, independemente portanto das situações concretas de validade.

Como dizem Sperber e Wilson, o contexto é formado pelo «conjunto das premissas utilizadas para a interpretação de um enunciado (exceptuada a premissa de base segundo a qual o enunciado em questão foi produzido)» (Sperber e Wilson 1989: 13). O conjunto destas premissas serve aos interlocutores para a formação de hipóteses interpretativas, de entre as quais seleccionam aquela que se revela mais relevante. Uma hipótese interpretativa é tanto mais relevante quato menor esforço interpretativo exigir e quantos mais efeitos contextuais produzir.

As hipóteses interpretativas integram o ambiente cognitivo ou o saber dos interlocutores, do qual fazem parte, por um lado, as percepções presentes do mundo físico, assim como os saberes que, directa ou indirectamente, são susceptíveis de inferir a partir dessas percepções e, por outro lado, os saberes que guardam em memória acerca dos pensamentos, dos sentimentos e das hipóteses interpretativas que constituem a sua experiência tanto do mundo físico e do mundo psíquico como do mundo social.

Uma hipótese pode ser mais ou menos relevante, possui um valor relativo de relevância, oferecendo portanto uma possibilidade relativa de ser inserida no processo inferencial de interpretação.

Para funcionar no quadro do processo interpretativo, uma hipótese só tem valor de relevância se cada um dos interlocutores puder pressupor que integra o ambiente cognitivo mútuo, isto é, se puder supor 1) que o(s) seu(s) interlocutor(es) também formula(m) a mesma hipótese, 2) que formula a hipótese de que ele(s) formula(m) a mesma hipótese, 3) que formula a hipótese de que ele(s) formula(m) a hipótese de que ele formula a hipótese que ele(s) formula(m) a mesma hipótese, e assim por diante indefinidamente. Devido a esta natureza recursiva das hipóteses interpretativas, a compreensão dos enunciados nunca é um processo de inferência de natureza absoluta, mas hipotética, sendo tanto mais provável quanto mais fiável fôr a mutualidade do ambiente cognitivo.

{bibliografia}

Herman Parret, (dir.), Le Sens et ses Hétérogénéités, Paris, ed. du CNRS; 1881; Dan Sperber e Deirdre Wilson, La Pertinence. Communication et Cognition, Paris, ed. de Minuit, 1989 (Relevance. Communication and Cognition, 1986)