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( do prov. tenso) Género lírico com origem na poesia trovadoresca provençal, estendendo-se depois a todo o ocidente latino, que consiste numa cantiga de mestria dialogada onde dois trovadores travam uma espécie de disputa poética sobre um determinado assunto, compondo cada um geralmente o mesmo número de estrofes. Ao poeta que compõe a primeira copla, cabe também a escolha do esquema estrófico, rimático e rítmico, respondendo o seu adversário na copla seguinte, obedecendo obrigatoriamente a essa escolha. O mesmo esquema sucedia nas findas, porém, por vezes, o primeiro interlocutor prolongava a composição, acrescentando-lhe uma finda suplementar para poder ser o último a responder, apoderando-se assim do epílogo da cantiga.

Relativamente ao seu conteúdo, existem tenções sobre a natureza do canto, divergências estilísticas ou problemas amorosos, como é o caso da tenção provençal mais antiga, do séc. XII, que consiste num debate entre os trovadores Marcabrú e Hug Catola. No entanto, o conteúdo da tenção também pode ser uma mera luta verbal entre os seus autores que alternadamente se vão ridicularizando, apontando defeitos físicos ou denunciando o desrespeito pelas vulgares normas de conduta social, assumindo a composição, por vezes, um tom particularmente obsceno. Todavia, normalmente não existia qualquer autenticidade nestes tipo de debates, não sendo mais do que meros exercícios literários em que as capacidades de cada poeta eram postas à prova, sendo evidente em algumas composições, quando eram realizadas perante o público, que o trovador respondia ao argumento adverso, dando primeiro uma resposta estereotipada e geral, para ter tempo de pensar e apresentar no final um argumento próprio.

Uma variante deste género lírico é a tenção-fictícia que pode ser dividida em dois grupos: no primeiro, estão incluídas as composições onde o próprio trovador compõe as réplicas do seu suposto adversário, uma personagem real; do segundo, fazem parte as composições onde o trovador simula um debate com alguém ou algo de quem nunca obterá resposta. É o caso de Bertran Carbonel, trovador do séc. XIII e autor de uma tenção fictícia em que dialoga com o seu cavalo.

Não devem ser classificadas como tenção as composições onde o poeta dialoga com a dama ou onde a rapariga dialoga com o apaixonado ou com a mãe, porque não se verifica a presença real ou fictícia de dois trovadores.

{bibliografia}

GONÇALVES, E. “Tenção” in Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, Organização de Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani, Caminho, 1993; JEANROY, Alfred: Les origines de la poésie lyrique au Moyen Âge, Librairie Ancienne Honoré, 1925; LE GENTIL, Pierre, La poésie lyrique espagnole et portugaise à la fin du Moyen Âge- vol I, 2ªed., Slatkine, 1981 ( 1ªed., 1949); RIQUER, Martin de: Los trovadores-Historia literaria y textos – Tomo I , 2ª ed., Coléccion Letras e Ideas, Editorial Ariel, 1989, ( 1ªed., 1975); ROUBAUD, Jacques, Les Troubadours, Éditions Seghers, 1971; TAVANI, Giuseppe: A poesia lírica galego-portuguesa, Comunicação, 1990; VASCONCELOS, Carolina Michaelis de : edição crítica e commentada do Cancioneiro da Ajuda, II, Halle, 1904.