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A Teoria dos Polissistemas emerge, numa primeira fase, fundamentalmente com os estudos de Itamar Even-Zohar e mais tarde com Gideon Toury, Zohar Shavit e outros colaboradores do Porter Institute for Poetics and Semiotics da Universidade de Tel-Aviv de Israel. Esta teoria inclui aspectos resultantes dos pressupostos dos formalistas russos (äFormalismo Russo) e outros apresentados por membros da äEscola de Praga do Estruturalismo, desenvolvendo-se numa segunda fase também a partir das contribuições da äsemiótica da cultura, com nomes como Iuri Lotman, membro da Escola de Tartu.

A Teoria dos Polissistemas apresenta essencialmente aproximações sociológicas e convergentes com aquilo a que vulgarmente se dentende na actualidade como äcampo literário (Bourdieu), na medida em que se reconhece a existência de uma instituição literária, cuja autonomia é condição para pensar a sua interrelação com os outros sistemas. São estes, pois,os aspectos históricos da criação de uma teoria que simultaneamente deriva e se afasta da semiótica clássica. Com efeito, a assunção da existência dos polissistemas e toda a constelação de conceitos que lhe são inerentes (nuclear, periférico, tensional, primário, secundário, etc.) explicam a diferença fundamental entre ätradução literária e literatura traduzida, explicitando também o dinamismo de certos momentos culturais.

De facto, de acordo com essa teoria, fundada como se disse por Even-Zohar e seguida por Gideon Toury, desenvolvida e adaptada por Susan Bassnett e outros especialistas, um clima tensional do ponto de vista estético-literário caracteriza qualquer momento de transição cultural e literária. A tensão dinâmica é, pois, própria e inerente ao momento de transição, característico, por exemplo, do período pré-romântico. Poderemos, tavez, considerar a pertinência desta teoria para caracterizar esse momento literário, já que todo o acto cultural tem uma dinâmica própria feita de “núcleos” e “periferias”, em constante tensão. Com o momento” nuclear do äIluminismo, coexiste o äPré-Romantismo, “periférico” e numa luta “tensional” constante por adquirir uma posição mais central no sistema literário. É a este lugar “periférico” do Pré-Romantismo, a que nos referimos ao falar de “pré-românticos”, Já que tal movimento não é ainda nuclear no interior do sistema, coexistindo ao mesmo tempo com o “núcleo” de feição neo-clássica e iluminista, o que é causa de permanente tensão.

Evidentemente o que se nos revela importante neste âmbito é sublinhar o carácter dinâmico de cada momento cultural. Fundamental é, pois, realçar a designação que Even-Zohar dá de Teoria dos Polissistemas, na medida em que a literatura constitui um sistema que interage com outros sistemas no seio de um mais amplo sistema cultural. Daqui decorre a importância da perspectiva culturalista desta aproximação. O texto não funciona somente como tal, mas existe enquanto intrinsecamente relacionado com outros elementos que, igualmente fazendo parte do sistema, definem o seu funcionamento e o seu significado como contextuais.

Enquanto o problema da evolução, dentro de uma perspectiva estruturalista, tinha sido equacionado apenas do ponto de vista dos sistemas estáticos, Even-Zohar e os que se situam no âmbito da teoria dos polissistemas sustentam que os momentos culturais têm uma dinâmica própria que não coincide apenas com a evolução diacrónica do sistema, mas faz parte da sua própria estrutura sincrónica. De facto, não surge após a Idade Média um movimento cultural, social e económico que põe em causa os valores defendidos anteriormente? E não será após o äRenascimento que se impõem culturalmente os valores do äManeirismo e do äBarroco que o vão negar? Assistimos , pois, ao longo dos tempos, e sobretudo em termos culturais, a uma alternância do äpoder que se revela e manifesta através de toda uma dinâmica gerada entre uma multiplicidade de elementos em tensão constante.

{bibliografia}

Gideon Toury: “Aspects of Translating into Minority Languages from the Point of View of Translation Studies”, Multilingua, 4, 1 (1985); Itamar Even-Zohar: “The Function of the Literary Polysystem in the History of Literature”, in Communication: Symposium on the Theory of Literary History, Tel-Aviv (1970); idem: Polysystem Studies (special issue, Poetics Today, 11, 1) (1990); idem; “Polysystem Theory”, Poetics Today, 1, 1-2 (1979); José Lambert: “L’Eternelle question des frontières: Littératures nationales et systemes littéraires”, in Langue, Dialecte, Littérature: Études romanes à la mémoire de Hugo Planteux, Leuven (1983);