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Vocábulo de origem grega (trilogía – conjunto de três tragédias) que designava, na Grécia antiga, o conjunto de três tragédias apresentadas a concurso, por cada autor, nas festas em honra de Dióniso. Tome-se como exemplo a trilogia dramática Oresteia da autoria de Ésquilo, o primeiro grande tragediógrafo grego, que viveu entre os séculos VI e V a. C. Esta trilogia é composta pelas peças Agamémnon, Coéforas e Euménides (Ésquilo, Oresteia, (trad. Joaquim Alves de Sousa), col. «Critério», vol. 13, Livraria Cruz, Braga, 4ª ed.) que tem como contexto de partida a guerra de Tróia, sendo as persoanagens principais Agamémnon, a esposa Clitemnestra (que permanece ao longo das três peças, ainda que sob a forma espectral na última) e Ortestes, o filho. Cada concorrente apresentava para além da trilogia, também um drama satírico. Este conjunto de quatro peças foi, mais tarde, catalogado como tetralogia.

Pode-se fazer referência igualmente à trilogia das barcas de Gil Vicente – Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória – centrada na distinção bem / mal, contendo personagens alegóricas associadas ao céu e ao inferno, destinada a denunciar a corrupção e a hipocrisia dos poderosos (que não têm entrada no batel do Anjo) e a enaltecer a simplicidade dos ingénuos e dos oprimidos (que não merecem entrar no batel dos danados). A própria Compilacam de Todalas Obras de Gil Vicente refere-se a estes três textos como partes de uma só obra: «He repartida em tres partes. […] de cada embarcaçam hua cena. Esta primeyra he da viage do inferno, tratase pollas figuras seguintes. […] Esta segunda he atribuida aa embarcaçam do purgatorio, tratase per lavradores. […] Seguese a terceyra cena que he enderençada a embarcaçã da glória. Tratase per dignidades altas.» (Gil Vicente, Compilacam de Todalas Obras de Gil Vicente, Lisboa, 1517).

Pode considerar-se também trilogia o conjunto formado pelos três romances de José Saramago – Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes e A Caverna – que se focalizam na sociedade actual, retratando o cinismo e o egoísmo, o consumismo, a massificação, a precaridade da vida humana, resultado de uma sociedade onde os valores foram, e têm vindo a ser, adulterados.

O termo trilogia usa-se, hoje, para designar um conjunto de três obras centradas num mesmo tema ou personagem, quer se tratem de textos dramáticos ou narrativos, sejam sob a forma escrita ou em adaptações ao cinema. Actualmente, considera-se também a existência do termo sequela para designar continuações/ variações de uma mesma história, protagonizadas pelas mesmas personagens, que não têm a obrigatoriedade de ser conjuntos de três, como a trilogia. Assim, os filmes «Look who is Talking» (1989), «Look who is Talking Too» (1990) e «Look who is Talking Now» (1993) realizados por Amy Heckerling constituem uma sequela baseada na vida de uma família protagonizada por John Travolta e Kirstie Alley, antes ainda de formarem família, com as peripécias do bebé Mikey ainda no ventre materno, a sua posterior preocupação face ao nascimento de uma irmã e o dia-a-dia da família quando novos habitantes ocupam também lugar em casa; «Home Alone» (1990) de John Hughes conhece igualmente três variantes com as sequências «Home Alone 2» e «Home Alone 3», datadas de 1992 e 1997 respectivamente. Aqui, o realizador e os títulos são os mesmos, existe sequência entre os dois primeiros que se desenrolam em torno da mesma criança que é deixada em casa sozinha por negligência, porém o terceiro possui um enredo e personagens diferentes; «Godfather», «Godfather – part II» (1975), e «Godfather – part III» (1990) realizados por Francis Ford Coppola retratam o quotidiano austero, as relações sociais e políticas pouco amistosas da família Corleone e o seu envolvimento com a Mafia, apresentando os seus membros em diferentes situações, sempre orientados pelos mesmos ideais e finalidades.

Em suma, o termo trilogia é uma forma mais genérica de fazer referência a textos (literatura, música, cinema, teatro) que têm ligação entre si, exigindo a presença de um conjunto de três textos; sequela pode abranger um maior número de textos, como é o caso de «Star Wars» de George Lucas, e é o termo mais específico que se aplica aos textos que pretendem dar continuação a outros.