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Do grego logos e mach, literalmente combate ou luta de palavras ou de discursos, este termo costuma ser utilizado para significar, numa acepção restrita, uma disputa ou uma controvérsia e, num sentido lato, a natureza eminentemente dialógica do discurso. Ao considerar assim a natureza logomáquica do discurso, sublinha-se o facto de toda e qualquer prática enunciativa comportar, implicita ou explicitamente, uma dimensão agonística, por ser constituído por um combate de posições a partir de lugares ou de topoi argumentativos.

Esta natureza agonística ou logomáquica da linguagem torna-se particularmente manifesta com a emergência da experiência moderna, uma vez que é no seu âmbito que tanto as diferentes dimensões do ser como as diferentes esferas de legitimidade da acção e do discurso se autonomizam, dando assim origem ao que Max Weber (1864-1920) designou por desencantamento do mundo e por pluralismo dos valores.

Para a experiência tradicional, a verdade, o belo e o bem, isto é, as categorias aléticas, estéticas e éticas do ser confundem-se, ao passo que se diferenciam no quadro da experiência moderna. Assim, para o homem moderno, nem sempre aquilo que é verdadeiro é belo e bom, aquilo que é bom nem sempre é verdadeiro e belo e aquilo que é belo nem sempre é verdadeiro e bom. De igual modo, enquanto para a experiência tradicional os fundamentos da legitimidade religiosa são igualmente válidos nos domínios económico, político, terapêutico e do saber, para a experiência moderna, cada uma destas esferas possui os seus próprios princípios de legitimação, tendo em vista a defesa de interesses diferenciados e a eficácia dos procedimentos. Deste modo, assistimos, na modernidade, à emergência de conflitos potenciais e de diferendos entre pretensões legítimas autónomas e eventualmente contraditórias, promovidas, inculcadas, alimentadas e defendidas por instituições que pretendem reivindicar para si legitimidade e competências próprias para ditar uma ordem de valores e de normas com força vinculativa numa das esferas da experiência.

Não admira por isso que seja no quadro da experiência moderna que se desenvolvam os procedimentos discursivos logomáquicos destinados ao convencimento e à inculcação das pretensões legítimas dos diferentes actores e agentes em confronto. A este respeito, assistimos a um movimento aparentemente contraditório de utilização exacerbada e de depreciação das estratégias argumentativas e retóricas constitutivas da logomaquia moderna.

{bibliografia}

Adriano Duarte Rodrigues, Estratégias da Comunicação, Paris, ed. Presença, 1997, 2ª. ed.; Max Weber, Economie et Société, Paris, ed. Plon, 1971 (or.; Wirtschaaft und Gesellschaft); L’Ethique protestante et l’Esprit du Capitalisme, Paris, ed. Plon.