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« A major source of contention in horror has always been the relationship between horror writing and children. Subject to censorship and age restriction, horror tends to be viewed as something unsuitable for the young reader. Horror, however, is never far away from the imagination of even the most well- adjusted child, and children’s stories are suffused with themes and imagery of the most extreme forms of horror. European fairy tales, deriving from oral traditions and then collected and anthologized, are now directed primary to an audience of children, and considered ideal bedtime reading at that, despite the murder, cannibalism, abandonment, and mutilation that fill their pages.» (Corstorphine & Kremmel, 2018, pp. 9–10)

Um dos elementos fundamentais da literatura infantojuvenil é a sua audiência, tratando-se de um género escrito para ser lido não só por crianças, mas também por adultos, como pais e educadores, que atuam como meio e como produtores deste género literário. Para além disto, é um tipo de literatura vista, acima de tudo, como tendo o objetivo de educar, para além de entreter (O’Sullivan, 2010).

A história do terror infantojuvenil já vem a ser traçada desde os contos de fadas que, tradicionalmente, eram dirigidos a crianças, com um fim pedagógico, mas nos quais abundavam episódios horrendos, pesadelos, criaturas monstruosas, elementos mágicos, canibalismo, sangue e, numa grande variedade destes, um fim que não é necessariamente feliz, maior parte das vezes influenciados pelo folclore e pela tradição oral, como é o exemplo dos contos dos Irmãos Grimm. Os contos de fadas e o terror desenvolveram-se, tanto em termos de categorização literária como nas estruturas utilizadas para os construir, como entidades completamente distintas. Apesar de não partilharem os mesmos objetivos no que diz respeito às expectativas do público em geral, elementos de terror podem ser claramente identificados nas estruturas narrativas dos contos de fadas datados de muito antes do século XX (Piatti-Farnell, 2018, p. 93). O que acaba por acontecer é que, nestas narrativas, o que seria considerado como violência em termos gerais, neste contexto é apenas mais provável de ser considerado como, por exemplo, um castigo justo (Piatti-Farnell, 2018, p. 97).

Até 1939, como Nevins (2020, p. 175) refere, as crianças eram vistas como sendo demasiado influenciáveis, «puras, passivas e inocentes» para serem expostas ao medo, por mais fictício que fosse. Um dos autores mais conhecidos desta altura, que escreveu terror infantojuvenil, é John Masefield. As suas obras The Midnight Folk (1927) e The Box of Delights (1935) criaram arquétipos e exemplos para escritores que surgiram mais tarde, como C. S. Lewis, Mary Norton, Roald Dahl e até J. K. Rowling, pelo que Nevins (2020, p. 175) refere que estas duas obras podem até ser contadas entre os livros mais originais para crianças deste período.

Foi nos anos sessenta e setenta do século XX que o terror para crianças e adolescentes mais se desenvolveu, apesar de não existir uma tentativa concreta por parte das editoras de publicar ou publicitar ficção de terror para os leitores mais novos. Por esta razão, as obras deste período não eram ainda consideradas como parte de um subgénero literário. Foi mais tarde, com a publicação do primeiro livro da série «Goosebumps», de R. L. Stine, que se começou a considerar a literatura de terror infantojuvenil como um subgénero da literatura e uma categoria de marketing dentro das editoras (Nevins, 2020, p. 175). R. L. Stine foi o autor dominante de terror infantojuvenil nos anos noventa. Antes, temos outros exemplos como The House with the Clock in the Walls, de John Bellairs (1973), que combinou elementos comuns ao género de terror (casas assombradas, fantasmas, bruxas, etc.) com elementos mais reconhecíveis e da mesma forma assustadores para a audiência infantojuvenil (como bullies, adultos, incidentes humilhantes, etc.). Outro autor reconhecido neste género literário é Robert Westall, cujas obras para crianças e adolescentes tendiam para o terror sobrenatural com viagens no tempo, bruxaria, barcos possuídos e fantasmas (Nevins, 2020, p. 179). Desta forma, o terror escrito para leitores mais jovens utiliza elementos comuns ao terror em geral e aproxima-os da realidade infantojuvenil, pontuando-o com mais instâncias de alívio de tensão, episódios com resoluções cómicas. Estes elementos são, acima de tudo, utilizados com um objetivo específico relacionado com o lado educacional e moral do género infantojuvenil. O terror para este público-alvo tem, desta forma, sempre um objetivo que se alinha com as noções da sociedade para com a capacidade que este público-alvo tem de entender e aprender com estes textos.

Apesar de se considerar o terror infantil e infantojuvenil como um género literário relativamente recente deve ter-se em consideração, tal como Rodgers (2018, p. 341) refere, que «[d]emarcated age ranges by no means prevent some readers younger or older than this from accessing the book, but they do indicate an anxiety among authors and publishers that some ghost stories may be too chilling for younger readers». Assim, para um género que é, no seu âmago, definido de acordo com as idades pretendidas para os seus leitores, tal como existem adultos que leem livros infantis, o mesmo poderá acontecer ao contrário. Na realidade, basta observar, como exemplo, as ligações históricas significantes que sempre existiram entre histórias de fantasmas [literatura fantasmagórica], o Natal e a tradição oral e, tal como Rodgers (2018, p. 339) refere, a possibilidade de as crianças estarem, num certo sentido, inseridas dentro do público-alvo da literatura fantasmagórica, mesmo que não sejam o seu público exclusivo. É, portanto, muito difícil dizer se crianças liam ou não terror infantojuvenil antes de este tipo de literatura se tornar num género mais consolidado, mas vários autores estão mais inclinados para afirmar que sim.

 

Bibliografia:

Jess Nevins: Horror Fiction in the 20th century (2020); Jerrold E. Hogle (Ed.): The Cambridge Companion to Gothic Fiction (2002); Kevin Corstorphine & Laura R. Kremmel (Eds.): The Palgrave Handbook to Horror Literature (2018); Lorna Piatti-Farnell, «Blood Flows Freely: The Horror of Classic Fairy Tales» in Kevin Corstorphine & Laura R. Kremmel (Eds.): The Palgrave Handbook to Horror Literature (2018); O’Sullivan: Historical Dictionary of Children’s Literature (2010); Beth Rodgers, «Children’s Ghost Stories» in Brewster & Thurston (Eds.): The Routledge Handbook to the Ghost Story (2018).