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Na estrutura da tragédia grega antiga, segundo a descrição de Aristóteles, corresponde aos diálogos líricos entre o coro e uma personagem, que substituem o estásimo, em regra. O texto do kommós (não confundível com komos, ou “folia”, termo que dará origem a comédia) é quase sempre escrito em tom nostálgico e triste, muitas vezes associado a ritos funerários. Electra de Sófocles ou Agamémnon de Ésquilo contêm exemplos clássicos do papel desempenhado por estes diálogos estratégicos (kommoi, no plural) no desenrolar da acção trágica. Na tragédia de Sófocles, é exemplar o diálogo de Electra com o Coro, dominado pela lamentação emocionada da protagonista pelo assassínio de seu pai, Agamémnon, que não consegue vingar:

CORO:

Uma voz dolorida soou no regresso, um grito de dor vindo do leito do pai, quando o golpe assassino do éneo machado o atingiu. O dolo forjou o crime, a lascívia executou esse monstro horrível gerado por eles, que nem sei se foi obra de um deus ou se teve mortais por autor.

ELECTRA:

Ó dia mais execrável de quantos vivi! Ó noite, ó dor horrível daquele banquete nefando, em que o meu pai recebeu uma morte infame de um duplo braço!… Ele roubou-me, à traição, a vida e precipitou-me na ruína. Quem dera que o grande Zeus olímpico os fizesse sofrer vingativas penas e não os deixasse jamais gozar da glória, depois de cometerem tais crimes!

(Electra, in Tragédias do Ciclo Troiano, trad. de E. Dias Palmeira, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1973, pp.70-71)